domingo, 15 de fevereiro de 2009

O olhar

Uma das muitas coisas que tenho que admirar no meu cão é a sua capacidade ininterrupta de me fitar olhos nos olhos.
Mais do que qualquer ser humano que conheça, ele olha-me intensamente durante momentos infinitos.
Existem diversas pessoas que fogem com o olhar quando falam. Olham para longe, olham para outras pessoas, para as mãos. Fitam o passado e o futuro. Esquecem-se do presente.

A mim sempre me incomodou falar com alguém que não me encara. Pessoas que se escondem atrás de subterfúgios para que não vejamos a insegurança e a dor por trás do leite dos olhos. Pessoas que aprenderam que é na sombra do ambíguo que se esconde a segurança e a protecção.
Até que um dia compreendem que, levadas pelos anos de experiência a encarar o vazio, quem os rodeia deixou simplesmente de se importar com a existência ou não de um olhar sustentado. Até que um dia compreendem que o seu Eu deixou de existir.

Afinal, nós só somos verdadeiramente nós, quando nos reencontramos nos olhos de alguém que nos fita sem medo. Sem pressa. Sem períodos de tempo contados.
Felizmente para mim, tenho um cão que me fita sem medos e sem tempo. Nele reencontro-me diariamente. No seu amor incondicional. Felizmente para mim, tenho ainda algumas pessoas que me fitam sem medos. E sem tempo. Neles também me reencontro.
Felizmente para mim, ainda posso ser consistente. E genuína. E Eu.

2 comentários:

fs2 disse...

Felizmente para mim tu existes :)

Gasocarbónica disse...

muito bem "dizido" :D

 

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