domingo, 24 de maio de 2009

Soturnidade

O conhecimento do teu corpo e das tuas marcas
revela as soturnidades do teu espaço
quando reflectido nos meus dedos frágeis.
Meu reflexo, meu som, meu sorriso
inóspito. As mulheres que atravessam
o teu coração não sabem nem sonham
a violência silenciosa do teu cansaço.
Esperam, no desespero triste da despedida
que o teu dia amanheça mais claro e mais
solarengo. Conquistam-te com mentiras surdas.
Acreditam na redenção da tua alma.
Talvez um dia elas descubram,
como eu descobri, coberta do teu sangue
e da tua saliva, que saber-te não é sinónimo
de te possuir. Afinal, meu irmão, minha alma gémea,
meu amor, meu amante, meu eterno amado
eu não te conheço porque não te possuo.
Meramente sinto as batidas do teu coração
nas minhas veias.
As tuas palavras nos meus lábios.
Os teus sentires na minha pele.
As tuas mágoas. Os teus esgares. Os teus dedos.
Na minha garganta.

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