sábado, 25 de dezembro de 2010

Espiral

A minha vida é feita de ciclos. Períodos de profunda instabilidade onde me interrogo sobre as verdades, os engodos, as teorias, o preto e o branco.
Estou mergulhada numa espiral de questões que me estão a minar por dentro. O que quero afinal? Onde começou o erro? Quem são os outros?
Onde os posiciono na minha vida?
Estou cansada de fingir ser quem não sou. Sempre fui duas pessoas dentro de mim mesma. A que tem pena e a que dilacera. A que seduz e a que é seduzida. A que não diz nada e a que diz tudo. A que recua e a que se impulsiona em frente. A que pensa que o melhor é não percorrer aquele caminho e a que começa a correr nessa direcção.
E como em todos os ciclos, de cada vez que páro e respiro é pior. Porque há mais aprendizagem, mais erros, mais desconfiança, mais traição.

Sinto-me tão vazia e tão cheia. Tão quebrada e tão inteira.
As perguntas são sempre as mesmas, as respostas são sempre tão diferentes. Vejo as pessoas, vejo as acções, sei que cada vez as compreendo menos e cada vez vivo mais dentro de mim mesma.
Existem dias que me apetece gritar, existem dias que quero ficar no mais profundo silêncio.
Continuo tão sozinha como sempre. Ou mais ainda, porque perdi pessoas que me eram importantes e que se perderam de si mesmas.
Partilho um inconsciente colectivo apenas com a fs2 e não consigo ler as pessoas. E perdi a vontade.
Afinal vale ou não a pena investir em pessoas que arrastam consigo bagagem? Existe uma medida óptima de bagagem? Afinal o que é mais importante a atracção física ou a emocional? A atracção emocional pode durar? Porque é que não ecoo em ninguém para além de uma pessoa que não existem há demasiado tempo?
Estou sufocada de ideias, partilhas que preciso fazer e ao mesmo tempo que me esgotam de as partilhar e de as sentir.
Colecciono desilusões e as esperanças morreram-me. Um dia planeei-me casada e com filhos e uma puta de uma vida que hoje não quero nem oferecida. E hoje não me revejo nessa imagem. Nem em nenhuma.
Vejo-me velha e sozinha. Vejo-me nova e sozinha. Vejo-me no cinema, nos concertos, vejo-me perdida numa vida profissional qualquer sem interesse, vejo-me a atrair as pessoas porque sou estranha, vejo-me a repugná-las porque sou estranha, vejo-me a invadi-las mesmo sem querer. A semear ideias, a corromper inocências, a transformar tudo por completo.
Eu quero mesmo a mesma pessoa anos a fio? Poderei não me cansar de viver? Poderei não acordar oprimida porque as pessoas têm funcionamentos que não me fazem sentido?
Eu quero mesmo pessoas diferentes? Apenas porque a espaços me exercem fascínio? Eu quero mesmo estar sozinha?
Eu conseguirei fazer seja o que for que quero?
Sou cada vez mais aguda. Cada vez mais diferente, cada vez mais escondo quem sou. Deixo as pessoas pensarem o que querem. Mantenho-as prudentemente fora do meu alcance.
Preciso digerir isto tudo e estabilizar-me? Preciso mesmo? Ou preciso agudizar-me ao limite, aprofundar e descer mais profundo, algures onde se escondem as respostas e o meu ser.
Preciso angustiar-me? Preciso quebrar esta imagem, preciso soltar-me, abrir as asas e voar?

Desde quando é que sobrevalorizei uma estabilidade de merda? Nunca estive estável mas fiz um sem fim de sacríficios para me estabilizar. Optei por rumos que me pareciam mais estáveis e mais normais. Reneguei-me porque precisava de estar calma num qualquer café, a falar de merda sem interesse nenhum. Porque precisava sentir-me capaz de ser igual a tantos outros, quando não sou. Eu não sou ponta de coisa nenhuma quando sou tudo ao mesmo tempo.
E 6 anos depois ouço "nunca reparei que eras revoltada". Não?? Pah então onde andou 6 anos? Incrivelmente as pessoas não me conhecem e pensam domar-me.
Consigo fingir que não tenho vontade de partir tudo à minha volta. Mas existem intensidades que a minha psique não aguenta simular. E que não quer simular neste momento.
Não vou dizer que está tudo bem. Não vou dizer que acredito em mentiras. Não vou dizer que quero brincar às casas. Não vou dizer que sou umapessoa com um feitio fácil, porque eu sou difícil. E não, não me apeteceu perguntar nada, quando não há nada para perguntar.
Chega de merda, chega de estabilidade, chega de paz podre, chega de dizer que está tudo porreiro.

Está na altura de entrar para dentro.

2 comentários:

fs2 disse...

Estou de acordo fs. Está na altura de iniciar uma viagem interior. Acho que não te deves oprimir. É o momento de tentares ir por todos os caminhos e escolheres o que mais te agradar. Chega de falsos pressupostos e de falsas apostas. A vida não é feita de um encadeamento errático de palpites.

Anónimo disse...

Subscrevo o que a FS2 escreve. Acredito que a vida, por vezes, de forma instantânea/imediata, não nos faz muito sentido, pois parece um conjunto meio disfuncional de "palpites". No entanto, creio que se partirmos do presente e de consciência tranquila, olharmos para o caminho percorrido até à data conseguimos olhar e retirarar alguma relaçöes de causa e efeito redondantes que justificam a norma seguida do nosso modo operandis e de escolha. Sim, porque a vida para mim, tem a sua magia no conflito ( isto é, no sentido de nos mostrar vários caminho) - desafio 1 - e na escolha por nós feita - desafio 2.
Continua a escrever. Bom texto.

 

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