domingo, 30 de novembro de 2008
sábado, 29 de novembro de 2008
O Mood da PERCA
In Memoriam - Fernando Pessoa
"Triste de quem vive em casa,
Contente com o seu lar,
Sem que um sonho, no erguer de asa,
Faça até mais rubra a brasa
Da lareira a abandonar!
Triste de quem é feliz!
Vive porque a vida dura.
Nada na alma lhe diz
Mais que a lição da raiz -
Ter por vida a sepultura.
Eras sobre eras se somem
No tempo que em eras vem.
Ser descontente é ser homem.
Que as forças cegas se domem
Pela visão que a alma tem!
E assim, passados os quatro
Tempos do ser que sonhou,
A terra será teatro
Do dia claro, que no atro
Da erma noite começou.
Grécia, Roma, Cristandade,
Europa - os quatro se vão
Para onde vai toda a idade.
Quem vem viver a verdade
Que morreu D. Sebastião?"
sexta-feira, 28 de novembro de 2008
A era das máquinas
são o futuro previsível e viável,
uma criança reza a um Deus ausente
e negoceia a possibilidade de converter
o seu coração vermelho num processador
que não recorde a maldade dos homens.
A criança cresce, designa o seu exército,
arrasa nações e cidades.
Não lembra a maldade dos homens.
Também não sabe o que é o amor.
Nem lhe importa.
A nova era inicia-se Agora.
Poesia da PERCA - Nuno Júdice
me esvaziaste de coisas incertas, e trouxeste a
manhã da minha noite. É verdade que te podia
Dizer “ Como é mais fácil deixar que as coisas
não mudem, sermos o que sempre fomos, mudarmos
apenas dentro de nós próprios?” Mas ensinaste-me
a sermos dois; e a ser contigo aquilo que sou,
até sermos um apenas no amor que nos une,
contra a solidão que nos divide. Mas é isto o amor,
ver-te mesmo quando te não vejo, ouvir a tua
voz que abre as fontes de todos os rios, mesmo
ele que mal corria quando por ele passámos,
subindo a margem em que descobri o sentido
de irmos contra o tempo, para ganhar o tempo
que o tempo nos rouba. Como gosto, meu amor,
de chegar antes de ti para te ver chegar: com
a surpresa dos teus cabelos, e o teu rosto de água
fresca que eu bebo, com esta sede que não passa. Tu:
a primavera luminosa da minha expectativa,
a mais certa certeza de que gosto de ti, como
gostas de mim, até ao fim do mundo que me deste.
Nuno Júdice
In -Pedro Lembrando Inês
In Memoriam - Antero de Quental
Mors Liberatrix
"Na tua mão, sombrio cavaleiro,
Cavaleiro vestido de armas pretas,
Brilha uma espada feita de cometas,
Que rasga a escuridão como um luzeiro.
Caminhas no teu curso aventureiro,
Todo envolto na noite que projectas...
Só o gládio de luz com fulvas betas
Emerge do sinistro nevoeiro.
— «Se esta espada que empunho é coruscante,
(Responde o negro cavaleiro-andante)
É porque esta é a espada da Verdade.
Firo, mas salvo... Prostro e desbarato,
Mas consolo... Subverto, mas resgato...
E, sendo a Morte, sou a Liberdade."
quinta-feira, 27 de novembro de 2008
In Memoriam - Fernando Pessoa
"O esforço é grande e o homem é pequeno.
Eu, Diogo Cão, navegador, deixei
Este padrão ao pé do areal moreno
E para diante naveguei.
A alma é divina e a obra é imperfeita.
Este padrão sinala ao vento e aos céus
Que, da obra ousada, é minha a parte feita:
O por-fazer é só com Deus.
E ao imenso e possível oceano
Ensinam estas Quinas, que aqui vês,
Que o mar com fim será grego ou romano:
O mar sem fim é português.
E a cruz ao alto diz que o que me há na alma
E faz a febre em mim de navegar
Só encontrará de Deus na eterna calma
O porto sempre por achar."
In Memoriam - Sophia de Mello Breyner
"Horizonte vazio em que nada resta
Dessa fabulosa festa
Que um dia te iluminou.
.
As tuas linhas outrora foram fundas e vastas,
Mas hoje estão vazias e gastas
E foi o meu desejo que as gastou.
.
Era do pinhal verde que descia
A noite bailando em silenciosos passos,
E naquele pedaço de mar ao longe ardia
O chamamento infinito dos espaços.
.
Nos areais cantava a claridade,
E cada pinheiro continha
No irreprimível subir da sua linha
A explicação de toda a heroicidade.
.
Horizonte vazio, esqueleto do meu sonho,
Árvore morta sem fruto,
Em teu redor deponho
A solidão, o caos e o luto."
quarta-feira, 26 de novembro de 2008
Preconceitos...
"Há mulheres que, no momento da verdade, se saem com aquela do "é melhor não porque ainda é cedo", ou com a do "não vamos fazer isto, porque se não fico completamente louca por ti". Vocês, mulheres, sabem que isto é verdade. E não o fazem por não terem vontade. Fazem-nos porque não parece bem e têm medo de como isso poderá ser interpretado pelo homem."
Penso que teremos de explicar que a PERCA não é preconceituosa... Pelo contrário, é aberta de espírito.. não condena essas moças que seguem impulsos inquietantes... também não incentiva, porque isto é como se diz por aí "cada um sabe de si..."
In Memoriam - Sophia de Mello Breyner
"Não creias, Lídia, que nenhum estio
Por nós perdido possa regressar
Oferecendo a flor
Que adiámos colher.
Cada dia te é dado uma só vez
E no redondo círculo da noite
Não existe piedade
Para aquele que hesita.
Mais tarde será tarde e já é tarde.
O tempo apaga tudo menos esse
Longo indelével rasto
Que o não-vivido deixa.
Não creias na demora em que te medes.
Jamais se detém Kronos cujo passo
Vai sempre mais à frente
Do que o teu próprio passo."
As Escolhas da PERCA - Portishead
segunda-feira, 24 de novembro de 2008
Três mulheres, três destinos
três mulheres, três destinos,
três almas. O mesmo desalento
de jamais conhecer o amor.
Jamais vislumbrarem o rosto de Deus.
Ultima Online
Saudosismos...
Pessoa.........
"Tenho o dever de me fechar em casa no meu espírito e trabalhar quanto possa e em tudo quanto possa, para o progresso da civilização e o alargamento da consciência da humanidade" (FP).
Para quem se precisa de re-encontrar, aconselho vivamente o incabado Livro do Desassossego...
Deixo-vos dois mimos... O primeiro porque a consciência da humanidade devia estremecer e levantar-se e fazer ouvir-se... O segundo porque a minha consciência me fez ouvir-me e dar de mim...
Durmo ou não? Passam juntas em minha alma
Durmo ou não? Passam juntas em minha alma
Coisas da alma e da vida em confusão,
Nesta mistura atribulada e calma
Em que não sei se durmo ou não.
Sou dois seres e duas consciências
Como dois homens indo braço-dado.
Sonolento revolvo omnisciências,
Turbulentamente estagnado.
Mas, lento, vago, emerjo de meu dois.
Disperto. Enfim: sou um, na realidade.
Espreguiço-me. Estou bem... Porquê depois,
De quê, esta vaga saudade?
Segue o teu destino
Segue o teu destino,
Rega as tuas plantas,
Ama as tuas rosas.
O resto é a sombra
De árvores alheias.
A realidade
Sempre é mais ou menos
Do que nós queremos.
Só nós somos sempre
Iguais a nós-próprios.
Suave é viver só.
Grande e nobre é sempre
Viver simplesmente.
Deixa a dor nas aras
Como ex-voto aos deuses.
Vê de longe a vida.
Nunca a interrogues.
Ela nada pode
Dizer-te. A resposta
Está além dos deuses.
Mas serenamente
Imita o Olimpo
No teu coração.
Os deuses são deuses
Porque não se pensam.
As Escolhas da PERCA - Jordin Sparks
domingo, 23 de novembro de 2008
O fim do sentir
Talvez tenha sido por isso, que em pequena me apelidaram de menina-sombra.
Dizia-se pelos cantos que nos meus olhos morava já uma mulher e um fauno.
Quando cresci, os meus ossos quebraram-se com a força das marés e o meu semblante
vestiu-se de negro e de vermelho. Os vícios não me abandonaram o corpo nem a alma.
Continuo seca, a pensar o demasiado e a sentir o infinito. Longe, existem velhos do Restelo
que se incomodam com as vagas do meu coração. À noite, as estrelas
atravessam o espaço nu que divide os planetas e as canções e abraçam-me as dores e os erros.
Talvez seja por isso que as flores me invejaram a pele branca. Em tempos idos, fui bela.
Trazia promessas no regaço e palavras imensas onde cabia o mundo inteiro.
Em tempos idos, fui sorriso. E mel. Hoje, os cansaços abatem-se sobre as pálpebras
e o vício de pensar consome-me as íris. Deus sabe do meu destino e sonha-me.
Deus amou-me, em tempos. Idos. Quando era bela e era sorriso. Deus amava-me
e perfumava a minha imaginação de ninfas e fadas secretas. Consumo
as lembranças no vício de sentir. E ao sentir, defino-me. Quebro-me.
Reconstruo-me. Arrasto no seio o fulgor da paixão e do húmus.
Sempre padeci de dois destinos complementares e extenuantes: ser eu e ser a outra.
Talvez tenha sido por isso que me apelidaram de mulher-lua.
Dizia-se pelos cantos que nos meus olhos mora um furacão e um abismo.
Quando penso, quando sinto, volto ser eu. Deus sente-me. No seu reino
longínquo. Deus lembra-me. Continuarei, seca. A pensar e a sentir demasiado
o pulsar da vida. A aguardar a morte. O seu beijo quente. No fim do sentir.
As escolhas da PERCA - David Archuleta
Atempadamente as darei a conhecer.
sábado, 22 de novembro de 2008
A arte da PERCA
A arte faz parte de mim, é como respirar. Aqui ficam alguns desenhos de um dos meus muitos artistas de eleição do deviant art. Para o link original verificar 0Effe0.
As Escolhas da PERCA - Morcheeba
sexta-feira, 21 de novembro de 2008
A parte morta da mente
Porque as nossas urgências não são as urgências da urgência.
Porque a seguir à encruzilhada a tomada de consciência é uma inevitabilidade.
Escrevo ao som de Moby. Partilhado por FS2. Algures num espaço-tempo conseguimos converter o nosso inconsciente colectivo numa partilha, numa PERCA.
Em Dezembro encerra-se um ciclo de vida para, espero eu, se abrir o horizonte queimado.
Procuro-me nas palavras de Pessoa, nas palavras criadas, recriadas e perdidas. Procuro-me e (ainda) me encontro. Algures no caos da resposta.
Nunca precisei de muitos amigos. Sempre criei ligações mais ou menos fugazes com poucos indivíduos em quem confiava. Hoje, não resta uma única dessas pessoas. Interrogo-me. O que acontece às partilhas e ao material importante que damos, que confiamos, que oferecemos? Onde fica ele na vida de quem parte? As PERCAS já me pesaram no colo.
Hoje deixaram de pesar. O corpo habitua-se a tudo. E com ele, a alma.
Mesmo à ausência. Mesmo à ausência de uma ausência verdadeira, daquelas que doem.
Existem outras dores que tomam essas dores e as levam para a parte morta da mente.
In Memoriam - Fernando Pessoa
"Não sei se é sonho, se realidade,
Se uma mistura de sonho e vida,
Aquela terra de suavidade
Que na ilha extrema do sul se olvida.
É a que ansiamos. Ali, ali
A vida é jovem e o amor sorri.
Talvez palmares inexistentes,
Áleas longínquas sem poder ser,
Sombra ou sossego dêem aos crentes
De que essa terra se pode ter.
Felizes, nós? Ali, talvez, talvez,
Naquela terra, daquela vez.
Mas já sonhada se desvirtua,
Só de pensá-la cansou pensar;
Sob os palmares, à luz da lua,
Sente-se o frio de haver luar.
Ah, nesta terra também, também
O mal não cessa, não dura o bem.
Não é com ilhas do fim do mundo,
Nem com palmares de sonho ou não,
Que cura a alma seu mal profundo,
Que o bem nos entra no coração.
É em nós que é tudo. É ali, ali,
Que a vida é jovem e o amor sorri."
As Escolhas da PERCA - Moby
quarta-feira, 19 de novembro de 2008
A Partilha da PERCA
Obviamente que a minha pessoa, no seu já habitual e inopinado estado entrópico, ofereceu prontamente o sorrisinho escarninho que esta deliberação parecia merecer.
Entretanto, e quando tive a humildade suficiente para reflectir sobre o assunto, reconheci-lhe alguma verosimilhança que ignorei numa primeira instância. Recordei-me, então, de que em tempos tinha aprendido alguma coisa sobre isso. Vou tomar a liberdade de partilhar com vocês, insistindo na minha nova e auspiciosa faceta de pedagoga.
Rimé dedicou-se à investigação duma temática particularmente curiosa - a partilha social de emoções -, segundo a qual as pessoas, quando expostas a situações traumáticas, tendem a falar sobre as suas experiências, relatando os seus sentimentos em ambiente social. Duma forma lata, a partilha social de emoções ocorre no decurso das conversas, nas quais as pessoas comunicam abertamente sobre as circunstâncias emocionais e os seus sentimentos e reacções. Advoga Rimé que este fenómeno pode desempenhar um papel preponderante no processamento de informação emocional e, neste sentido, na resolução do impacto emocional associado a um evento emocional ou stressante. O autor avança com cinco argumentos em prol desta visão, a saber:
1) As emoções podem elicitar sensações ambíguas e, neste sentido, as pessoas tendem a clarificá-las e resolve-las ao partilhá-las com elementos do seu ambiente social.
2) As emoções são experiências densas e difusas que necessitam de articulação cognitiva; através da linguagem e falando com os outros, as pessoas podem organizar o material emocional, distanciando-se do evento emocional.
3) As emoções geralmente desafiam as crenças das pessoas sobre si próprias, dos outros e do mundo, sendo que a partilha emocional permite aos indivíduos a restauração destes elementos, assim como a busca de um sentido aceitável para o evento.
4) Quando as crenças são desafiadas, o sentimento básico da segurança é ameaçado, pelo que as pessoas tendem a procurar apoio social. Nesta perspectiva, a partilha da emoção com membros significativos do seu ambiente social permite aos indivíduos encontrarem um apoio externo para o seu trabalho emocional.
5) As emoções podem elicitar a atenção auto-focada, podendo dissociar o indivíduo do ambiente social. Através da partilha de emoções, o ambiente social pode aceitar e compreender um estado que foi experienciado em privado, propondo formas sociais aceitáveis de definir essa experiência.
Depois desta pequena prelecção de PS, resta-me escalpelizar um pouco sobre ela, enquadrando-a na nossa experiência de vida.
Primeiro, acho que as FS’S funcionam, efectivamente, por choque traumático e, neste sentido, temos uma necessidade idiossincrática de experienciar qualquer coisa adversa para conseguir garantir os recursos cognitivos e emocionais necessários para empreender numa determinada acção. Penso que em certos momentos da nossa vida ficamos votadas ao marasmo e à inércia, e só perante situações de horror genuíno conseguimos gerar uma resposta com praticabilidade.
Segundo, ficamos emergidas nos nossos problemas com uma facilidade extrema, e tendemos a reflectir sobre eles até roçarmos o limite do irracional. É precisamente aqui que entra a partilha, quando procuramos alguém que nos ajude a criar um sentido onde não encontramos nenhum.
Terceiro, e porque um bocadinho de sentimentalismo também me assenta bem de quando em vez, o ambiente social também será alvo da minha análise. E porque vocês fazem parte dele, estas últimas ideias são uma singela oferta da minha pessoa às FS’S.
Em quantos ambientes sociais nos entregamos, desvelamos a nossa realidade oblíqua e desconexa, contamos as nossas experiências, revelamos os nossos sentimentos e ideais? A quantos pertencemos efectivamente? Que importância real lhes atribuímos? Em quantos deles conseguimos um rácio simpático entre o que damos e o que recebemos?
Aqueles que nos escutam nem sempre têm a capacidade de pegar no nosso discurso dilacerado e torná-lo, novamente, num todo coerente e simbólico. Creio que existe uma assimetria gritante entre a nossa necessidade de partilha e a necessidade que os outros têm de nos escutar. Talvez por este motivo uma boa parte comece por dizer umas coisas e acabe a dizer ponta de coisa nenhuma. Paralelamente, nós vamos iniciar e findar a nossa partilha com a sensação angustiante que não pertencemos aquele ambiente social, agudizando a nossa necessidade, por si só ingente, de revelar coisas de toda a espécie.
Nesta linha de raciocínio, deixo-vos umas palavras finais: obrigada por me permitirem esta partilha e fazerem-me sentir, todos os dias, que o meu lugar é aqui, restabelecendo a unidade e a coerência no meu mundo; por saberem escutar, por saberem colher os fragmentos do meu ser, tornando-o o todo que, muitas vezes, eu insisto em dilacerar; por me dizerem, na maioria das vezes, o que preciso de ouvir e nem tanto aquilo que eu gostaria de ouvir.
Mais do que tudo isto, agradeço-vos fundamentalmente por me dizerem quase sempre aquilo que eu digo também, dando sentido à minha individualidade, muitas vezes abalada pelas personalidades heterogéneas que perpassam a minha existência. Por me fazerem sentir que uma parte infinitesimal do meu ser habita em vocês, e que uma parte de vocês habita também em mim. Por termos o nosso inconsciente colectivo, onde permanecem as ideias que, pertencendo a cada uma de nós são, ainda assim, comuns a todas.
Hoje, a PERCA deixa a sua deliberação sobre a partilha: há pessoas que existem para nos lembrar que há outros como nós, que assumir a diferença é o caminho, que banir a vulgaridade é a solução, que ainda vale a pena viver acima do limiar da mediocridade. E se a partilha só faz sentido no contexto social, devemos criar o nosso ambiente à imagem daquilo que somos, de forma a podemos reencontrar nele aquilo que pontualmente se perde em nós.
"Porque nada nos aproxima tanto da própria morte como a morte dos outros. E o vazio que deixam é irrespirável como todo o vazio. Não morras, existe. Para continuar a haver razão em eu existir." - V. Ferreira
terça-feira, 18 de novembro de 2008
Manto laranja
da fúria dos dias e das noites
mágicas. Ouço o canto
do vento e de Pan.
A tonalidade dos olhos castanhos
espalhou-se pela casa,
pela imensidão da inevitabilidade
do sonho.
O laranja da esperança
(não o verde, o verde
lamentoso e amargo)
e sim, o laranja, o laranja-adocicado
quase vermelho, quase paixão.
Sinto a mente fervente
de imaginação e ideias,
ideias ainda não maduras,
pequenas fadas por nascer.
Aproximo-me do piano empoirado
e ouço-O tocar.
Deito-me no piano para sentir a vibração
lenta. Visto um manto de
vento e laranja,
cubro-me e adormeço no piano
vibrante.
As Escolhas da PERCA - Royksopp
Lema de Vida by a PERCA
consciências adormecidas no sono fácil das ideias feitas."
segunda-feira, 17 de novembro de 2008
Constatações da PERCA
- Ohh meu Deus Timmy, o menino só tem 6 anos!! A culpa é tua, Bob!
- Se o Joe bebe um litro de suco e o John bebe dois, quantos litros bebem os dois juntos?
DOIS DOS GRANDES PROBLEMAS DO SER HUMANO: FALAR DEMAIS E NÃO SABER OUVIR!
As Escolhas da PERCA - Goldfrapp
Claymore e o ser-se humano
Durante o tempo que acompanhei a Clare na sua viagem, tirei algumas conclusões que embora já estivessem em mim foram Clareficadas :)
Para assassinarmos os monstros que assolam a humanidade, temos sempre que nós próprios ter algo de monstruoso. Temos que abdicar da nossa inocência e de parte da nossa humanidade.
Os olhos tornam-se de prata, tornam-se mais sensíveis às tonalidades das relações, dos erros, da infinidade de nuances que é o ser humano. Não há retorno nesse caminho.
Parte do nosso ser perde-se para sempre nessa transformação. Para derrotar-mos os monstros precisamos do poder do monstro que vive adormecido em nós. E quando essa utilização é excessiva, o monstro apodera-se de nós e consome-nos.
Não é assim a vida em sociedade? Não é assim quando caminho sozinhos numa multidão de pessoas? Expostos. Os olhos cada vez mais de prata. Todos nós somos um pouco menos humanos e um pouco monstruosos.
Simplesmente, uns nunca ultrapassam os seus limites. Outros sim. Alguns voltam. A maioria não. Perdem-se num mundo em que a humanidade deixa de fazer sentido. Porque o poder e o prazer são rápidos e intensos. Porque julgam ter tudo.
Menos a inocência.
Menos...a inocência.
domingo, 16 de novembro de 2008
A geribéria...
A luz da PERCA
In Memoriam - Vergílio Ferreira
Hoje partilho com vocês mais algumas palavras sábias de um escritor que, pelo menos para mim, é uma referência já há muitos anos...
"Sê calmo e forte como a verdade da vida."
"Não é só na amargura que se sofre, o prazer também pode ser uma invenção do tormento."
"É insuportável a piedade. No limite da pena, o que sentimos é asco."
"A morte só é terrível quando a vemos da vida, quando entre nós e o seu nada há um tudo a perder."
"A evidência da vida não é a imediata realidade mas o que a transcende e estremece na memória."
"O ódio do homem é imenso e as palavras para o dizerem têm pouco tamanho."
"Existe como o ar, que vivifica e ninguém vê."
"Porque nada nos aproxima tanto da própria morte como a morte dos outros. E o vazio que deixam é irrespirável como todo o vazio. Não morras, existe. Para continuar a haver razão em eu existir."
"A felicidade não se mede pela quantidade do que nos acontece de agradável, mas pela quantidade de nós que responde ao que acontece."
As Escolhas da PERCA - Zero 7
sábado, 15 de novembro de 2008
In Memoriam - Fernando Pessoa
"Toma-me, ó noite eterna, nos teus braços
E chama-me teu filho. Eu sou um rei
Que voluntariamente abandonei
O meu trono de sonhos e cansaços.
Minha espada, pesada a braços lassos,
Em mãos viris e calmas entreguei;
E meu ceptro e coroa - eu os deixei
Na antecâmara, feitos em pedaços.
Minha cota de malha, tão inútil,
Minhas esporas, de um tinir tão fútil,
Deixei-as pela fria escadaria.
Despi a realeza, corpo e alma,
E regressei à noite antiga e calma
Como a paisagem ao morrer do dia."
As Escolhas da PERCA - Basement Jaxx
As escolhas
Somos obrigados a escolher. Não há saída possível que não implique uma escolha viável. Nesses momentos, sabemos que o futuro se desdobra em variadas possibilidades.
Mas não conseguimos aferir qual delas a melhor. A mais prática. A mais bem sucedida. Fazemos escolhas de olhos fechados.
Acreditamos no apoio (?) e nos conselhos de pessoas que talvez não nos sejam nada e, eventualmente, nunca serão. Muitas vezes, estas pessoas condicionam as nossas escolhas e as consequências futuras.
Em tempos, compreendi que ninguém se irá responsabilizar pela influência nefasta ou positiva que tem no nosso trajecto de vida. Por isso mesmo, aos poucos tenho-me libertado da importância que dei, em tempos, à opinião de alguns outros que me eram relevantes.
Quando escolhermos o caminho e o trilharmos estaremos sozinhos.
A vida impõe-me outra escolha. Terei de escolher em breve. Por todas as escolhas que a vida me negou tantas vezes.
Ainda assim, pressinto a sombra de algumas pessoas que se mantém perto. Não percorrem o caminho connosco mas dão-nos a mão quando tropeçamos nos buracos que não prevemos.
sexta-feira, 14 de novembro de 2008
In Memoriam - Fernando Pessoa
"A criança que fui chora na estrada.
Deixei-a ali quando vim ser quem sou;
Mas hoje, vendo que o que sou é nada,
Quero ir buscar quem fui onde ficou.
Ah, como hei-de encontrá-lo? Quem errou
A vinda tem a regressão errada.
Já não sei de onde vim nem onde estou.
De o não saber, minha alma está parada.
Se ao menos atingir neste lugar
Um alto monte, de onde possa enfim
O que esqueci, olhando-o, relembrar,
Na ausência, ao menos, saberei de mim,
E, ao ver-me tal qual fui ao longe, achar
Em mim um pouco de quando era assim."
quinta-feira, 13 de novembro de 2008
A esperança (ou o outro lado da perca)
É necessário acreditar que conseguiremos cumprir os objectivos mais medianos, acreditando piamente que se vamos pedir pouco a vida não nos poderá negar algo tão básico.
É necessário acreditar que se nos esforçarmos, se formos nós mesmas, se formos fiéis à nossa natureza então poderemos atingir todas as metas.
É necessário acreditar que a felicidade é algo que é reservado aos justos.
Para que possamos saber que nada disso é garantido. Que a vida não se importa com o nosso sistema de crenças.
É necessário sermos inteiras para que alguém nos possa quebrar.
PERCA total - Parte II
PERCA total
"E tudo o que nele cresce vai do que em mim diminui."
"Porque a força de quem sofre estimula a força de quem faz sofrer."
"Ver pouco é uma condenação, porque é um insulto dos outros. Mas ver muito também o é, porque é um insulto aos outros."
Estas quatro citações pertencem a um autor que aprecio particularmente - Vergílio Ferreira. Penso que, duma maneira geral, sistematizam a situação de vida presente das FS1 e FS2, no que respeita à vida académica.
Por ser algo que nos acompanha já há alguns anos, creio ser pertinente dedicar-lhe alguma atenção, para que possamos reflectir em conjunto sobre isto. Neste momento ainda não estarei, com toda a certeza, recuperada do choque que foi o dia de ontem. Não necessariamente pela opção que tomei - porque esta cisão era necessária e só peca mesmo por tardia -, mas fundamentalmente porque me vejo forçada a assumir que fomos derrotadas, duma forma tão astuta e insidiosa que me sinto envergonhada por semelhante desfecho.
Volvidos três anos, colhemos curiosidades diversas, andámos por terreno impérvio, seguimos um percurso errático e ilusório. Deu para rir enquanto durou, dá para chorar da miséria em que se transformou. Não obstante termos percorrido uma longa e sinuosa caminhada, temos de aceitar que voltámos ao ponto de partida. Pior, penso que conseguimos estar, actualmente, numa situação de maior PERCA (ridade) do que aquela em que começámos. Imbuídas dum qualquer espírito que se assemelha a uma crença no mundo justo (numa versão deturpada, obviamente), definimos um objectivo de longo prazo intangível, canalizámos todas as nossas energias num caminho que não fez, não faz e nunca fará qualquer sentido. Entregámo-nos voluntariamente a uma espécie de destino inexorável e encontrámos nele uma significação que nos supra ordenou. Seria o nosso sacrifício pessoal recompensado? Eventualmente. Se tivéssemos feito o que era expectável, no momento certo? Talvez.
Mas nós somos mulheres apenas no intervalo de tempo em que nos impedem de ser meninas. Lamento dizer-vos, mas a perfídia da existência humana ainda não nos conspurcou e, neste sentido, nunca seríamos capazes de entrar neste jogo para ganhar. A falta de consciencialização para esta questão potenciou a nossa realidade actual - com poucas ou nenhumas perspectivas, completamente esgotadas, em estado de total confusão mental. O antes e o depois são hoje um ponto de encontro de realidades sobrepostas e desconexas.
Hoje, somos espectadoras da nossa própria vida e esperamos ansiosamente por um momento de tréguas, por um pequeno espaço em que possamos cumprir os nossos dilacerados e desvirtuados projectos. Hoje, coabitamos num mar de dúvidas em que a única certeza é que temos ainda mais o problema e cada vez menos a solução. Hoje, somos subjugadas por uma pessoa cujo âmago desconhecemos, e que cujas intenções são demasiado obscuras para que eu lhes reconheça sequer uma linha condutora.
Hoje, aceito humildemente o sabor amargo da derrota e a lição que a vida me designou, assumo que perdi uma batalha mas estou convicta de que não perderei esta guerra.
quarta-feira, 12 de novembro de 2008
Algumas dicas sobre a PERCA
Quero apenas acrescentar que:
se chove é provável que seja obra da PERCA.
se alguém vos liga de número anónimo certamente é a PERCA.
quem escreveu senhoras cagonas no wc do post anterior foi a PERCA.
a PERCA é omnipresente nos desígnios da vida.
a PERCA é o fim e o início de toda a discussão.
porque compreender a PERCA é encontrar a luz. e a escuridão.
Portanto façamos alguns esforços no sentido de compreender a maravilhosa PERCA.
E tenho dito (ou talvez não).
O que é a Perca?!?!?!
O que é isto?
terça-feira, 11 de novembro de 2008
Finalmente... a PERCA!
É com muito apreço que escrevo o primeiro post da nossa PERCA. Penso que depois de partilharmos, durante muito tempo, um mesmo e ininteligível código semântico, encontrámos finalmente o vocábulo correcto para nos definir e orientar, num sentido supra ordenado.
Pretendemos assim prestar uma homenagem solene na PERCA, atribuíndo-lhe um significado apenas verosímil para as três, não só enquanto FS'S, mas enquanto membros dum insconsciente colectivo por nós formado, onde coabitam uma infinidade de ideias e experiências sequiosas de partilha.
A PERCA será, assim, a materialização de uma voz unívoca, capaz de gerar as mais diversas e inopinadas deliberações sobre a nossa lúgubre existência e, eventualmente, mais algumas subtilezas semânticas, apenas acessíveis aqueles que comungam connosco uma coisa singela mas tão importante - a cumplicidade. Digo-vos então suas FS'S que a PERCA será o nosso arquétipo. E sob esta designação vamos, certamente, encontrar o nosso caminho primordial.
Namastê ;)