As pessoas arrastam o corpo amordaçado.
O dinheiro que não paga a alma que se
vende em pequenas prestações.
Têm-nos por uma trela.
Sufocam-nos o grito na garganta,
a raiva, a mágoa, a pressão
a sangrar-nos os ouvidos.
Vendemos a inocência, os sorrisos,
a paz, o tempo. Vendemos a ternura,
a luz, sugados pelo vórtice das expectativas.
Esperam-nos. Esperam que sejamos
sorriso, empatia, que sejamos a mão
no rosto. E somos. Somos tão grandes
que transbordamos fora do corpo,
rasgamos as barreiras e quebramos os ossos.
Somos um vórtice, a minha alma um monstro
que me devora por dentro.
Somos um movimento de negação
e afirmação, um ponto de exclamação
após infinitas reticências.
Pulsas. Ouço o batimento do teu coração.
Uma geração inteira a viver-te nas veias.
Falha-te a voz. O cansaço transluz a tua pele.
Vejo claramente. Todas as cores dentro de ti.
A vida como um filme, a lógica implacável
da consequência. Vivemos na extensão do abismo,
suspensos no momento da queda.
Precisamo-nos. O outro que tem as mesmas palavras,
os mesmos significados, as mesmas linhas de definição.
Epicentros de cataclismos que são as únicas verdades
que muitos conhecem. Pouso a mão no teu ombro.
Sereno a tua pulsação. Canalizo o teu olhar para mim.
E enquanto te observo, vês-me. A mesma matriz.
Escondo-me no silêncio que grita e apenas tu me vês
inteira. Sussurro-te no teu desespero, a minha voz a lamber-te
as impaciências. A minha mão a acariciar-te as cicatrizes.
À nossa volta, as pessoas arrastam a alma
muda. Tiraram-lhes a voz, a gana, o arrojo.
O medo que cessa toda a libertação.
Tenho medo do dia que terei medo.
Tenho medo do dia que não tenha forças para gritar.
Por mim e por ti. Por todos os que nos abraçam,
preenchidos de nada e por nós e pelas nossas linhas rectas.
Só tu me podes silenciar, a mão na boca
a sufocar-me o gemido.
Só tu podes engolir-me o grito,
num espasmo de prazer.
Abro-te o silêncio e o amor que vive na aceitação.
Vives. Pulsas. Explodes.
Sorrio-te.
Mostrar mensagens com a etiqueta Poesia. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Poesia. Mostrar todas as mensagens
quarta-feira, 13 de julho de 2011
quarta-feira, 1 de junho de 2011
Ciclo
A vida é uma sucessão de retrocessos,
avanços e recuos onde todas as histórias
são uma mesma história. Todos os erros,
um mesmo erro. Todos os homens,
um mesmo homem. Poeira de cinzas
do que foi um dia o meu coração.
Renasço, pura, cada dia mais autêntica.
Não me minto, não me invento, não me reinvento.
Sou apenas eu, na imensidão que leva a linha ao
ponto final. Quase me perdi de mim mesma
nos anos que antecederam a noite.
Lembras-me? O sorriso inocente, a alma
e os sonhos, os amanhãs, a ternura que oferecia
a cada alma, tão intensa, tão genuína.
A força que impelia e aos poucos o vórtice
de medo, de quebra, a angústia que apagou
os meus olhos dos meus olhos.
Lembras-me? Todas as máscaras,
o silêncio, o grito, eu que não duvidava
que podia mudar o teu mundo.
Eu que alterei a rota das tuas marés.
E um dia rendi-me. E os meus olhos
não viam. E as minhas lágrimas não eram
salgadas. E o meu coração deixou de ser
vermelho. E as minhas mãos deixaram de estar
estendidas. E eu deixei de reconhecer-me.
As palavras deixaram de curar as ranhuras
do meu destino. O rosto mudou.
Morri dentro de mim todas as noites.
Recupero, agora, as palavras.
As inocências, a ternura, as mãos abertas.
Curo-me. Acordo. Voo. Rasgo. Forço. Abarco.
Agarra-me.
avanços e recuos onde todas as histórias
são uma mesma história. Todos os erros,
um mesmo erro. Todos os homens,
um mesmo homem. Poeira de cinzas
do que foi um dia o meu coração.
Renasço, pura, cada dia mais autêntica.
Não me minto, não me invento, não me reinvento.
Sou apenas eu, na imensidão que leva a linha ao
ponto final. Quase me perdi de mim mesma
nos anos que antecederam a noite.
Lembras-me? O sorriso inocente, a alma
e os sonhos, os amanhãs, a ternura que oferecia
a cada alma, tão intensa, tão genuína.
A força que impelia e aos poucos o vórtice
de medo, de quebra, a angústia que apagou
os meus olhos dos meus olhos.
Lembras-me? Todas as máscaras,
o silêncio, o grito, eu que não duvidava
que podia mudar o teu mundo.
Eu que alterei a rota das tuas marés.
E um dia rendi-me. E os meus olhos
não viam. E as minhas lágrimas não eram
salgadas. E o meu coração deixou de ser
vermelho. E as minhas mãos deixaram de estar
estendidas. E eu deixei de reconhecer-me.
As palavras deixaram de curar as ranhuras
do meu destino. O rosto mudou.
Morri dentro de mim todas as noites.
Recupero, agora, as palavras.
As inocências, a ternura, as mãos abertas.
Curo-me. Acordo. Voo. Rasgo. Forço. Abarco.
Agarra-me.
Etiquetas:
Poesia
segunda-feira, 30 de maio de 2011
Um dia...
Sufoco.
As pessoas esperam, anseiam, estabilizam-me.
Sufoco.
O excesso. O excesso de travessões,
palavras com que fujo à evidência do amanhã.
O cansaço que me verga as vontades e as febres.
Sufoco. Grito. Grito e estilhaço as máscaras.
Esta sou eu. Tão errada como sempre,
tão cheia de imperfeições, tão louca e aguda.
Um dia vou ser linear.
Um dia vou ser previsível.
Um dia vou deixar de ser mar e furacão e fogo.
Um dia não vou queimar.
Um dia vou deixar de prometer a mim mesma
que vai existir um dia.
Esta sou eu.
E eu sou a natureza, eu sou o espelho,
o horror, eu sou o espinho, o teu coração nu,
eu sou a cadência, o pulsar de um erro
perpetuado. Eu sou a inexistência de regras,
as asas abertas, o corpo em queda,
eu sou sempre eu, sempre igual, sempre fascinante.
Como fascinante é o veneno que nos faz alucinar.
Sufoco.
Um dia vou mandar tudo para o caralho.
As pessoas esperam, anseiam, estabilizam-me.
Sufoco.
O excesso. O excesso de travessões,
palavras com que fujo à evidência do amanhã.
O cansaço que me verga as vontades e as febres.
Sufoco. Grito. Grito e estilhaço as máscaras.
Esta sou eu. Tão errada como sempre,
tão cheia de imperfeições, tão louca e aguda.
Um dia vou ser linear.
Um dia vou ser previsível.
Um dia vou deixar de ser mar e furacão e fogo.
Um dia não vou queimar.
Um dia vou deixar de prometer a mim mesma
que vai existir um dia.
Esta sou eu.
E eu sou a natureza, eu sou o espelho,
o horror, eu sou o espinho, o teu coração nu,
eu sou a cadência, o pulsar de um erro
perpetuado. Eu sou a inexistência de regras,
as asas abertas, o corpo em queda,
eu sou sempre eu, sempre igual, sempre fascinante.
Como fascinante é o veneno que nos faz alucinar.
Sufoco.
Um dia vou mandar tudo para o caralho.
Etiquetas:
Poesia
quinta-feira, 28 de abril de 2011
A incondicionalidade do amor
A minha maior tragédia foram todos os homens que pensaram amar-me sem terem sequer a mais pequena noção do que é o amor.
Que sabem eles do amor incondicional que torna as tuas lágrimas nas minhas lágrimas? A tua dor na minha dor? A tua angústia na minha angústia?
Que sabem eles do fluxo que me faz sonhar o teu semblante quando estás longe? As tuas palavras que se semeiam na minha espinha?
Que sabem eles, afinal, da mão que nunca se consegue levar ao rosto que não numa carícia de ternura? De todos os perdões, todos os adeus, todos os momentos em que soube com a certeza implacável do destino que aceitarei sempre toda e qualquer decisão que impelir os teus actos.
Quem ama, não espezinha. Não insulta. Não abandona. Não parte sem olhar para trás. Não esquece. Não apaga. Não pensa que está melhor sem o outro.
Quem ama saberá sempre que está incompleto. Que faça o que fizer o amor nunca irá morrer. Quem ama sabe que faças o que fizeres, digas o que disseres, o amor é apenas porque sim. Mesmo se o deixares a secar no meu coração, ainda assim, ainda assim, meu amor, ele voltaria a renascer para ti tão intenso como no primeiro momento que me entreguei.
Que sabem eles do amor, quando sorriem com o meu vazio, quando aguardam que tropece, que caia, que me quebre, que me descubra sozinha dentro do arremesso do futuro.
Que sabem eles do amor, quando desistem ainda nem amanheceu, partem sem querer saber se respiro, se a pele ainda se mantém inteira, cosida, remendada.
Que sabem eles do amor, quando tudo o que pensam é na perda, na ausência, na expectativa que seja infeliz, que me inunde em lágrimas e torpor?
Que sabem eles de mim?
Mesmo quando te forço a partir eu olho para trás e tudo o que vejo és tu.
Mesmo quando sei que me destróis, que te destróis, que chegámos a um ponto sem retorno, que ficas melhor sem o teu porto seguro, que precisas que te impeça de me teres, mesmo quando concluo que precisamos que termine agora, mesmo assim, tudo o que quero é que sejas feliz.
Ainda que sem mim. Ainda que a tua felicidade seja longe, eu estarei sempre perto, sempre a garantir que não tropeças, que não te inundas de lágrimas, que não estás sozinho, nunca ficarás sozinho enquanto respirar.
Ainda que não ouças a minha voz. Ainda que não vejas o meu rosto. Ainda que eu espreite o teu sorriso de longe e não me ouças chegar e não me vejas partir. Ainda que o teu sorriso se vista do meu vazio.
Ainda assim. Se sorrires irei sorrir, se estiveres feliz, o meu coração irá ter alguma paz, se te souber inteiro.
E continuarei a amar-te. Mesmo que estejas longe. Porque o amor não termina. Não tem um fim. Tem apenas reticências.
A minha maior tragédia é saber que ninguém entende o meu amor por ti porque na realidade, todos os que dizem amar-me jamais o fizeram.
Amar dói. Amar exige do coração. Amar é incondicional. Amar é perdão e continuidade. Amar é tempo. É história. É partir e regressar. É dar mesmo quando não se recebe. É sorrir mesmo quando queremos chorar. É abraçar-te mesmo quando me magoaste, mesmo quando está tanto frio aqui.
Não preciso que me entendam. Não preciso que me aceitem. Nem sequer preciso que me respeitem. Preciso apenas e tão somente ver-te feliz.
Que sabem eles do amor incondicional que torna as tuas lágrimas nas minhas lágrimas? A tua dor na minha dor? A tua angústia na minha angústia?
Que sabem eles do fluxo que me faz sonhar o teu semblante quando estás longe? As tuas palavras que se semeiam na minha espinha?
Que sabem eles, afinal, da mão que nunca se consegue levar ao rosto que não numa carícia de ternura? De todos os perdões, todos os adeus, todos os momentos em que soube com a certeza implacável do destino que aceitarei sempre toda e qualquer decisão que impelir os teus actos.
Quem ama, não espezinha. Não insulta. Não abandona. Não parte sem olhar para trás. Não esquece. Não apaga. Não pensa que está melhor sem o outro.
Quem ama saberá sempre que está incompleto. Que faça o que fizer o amor nunca irá morrer. Quem ama sabe que faças o que fizeres, digas o que disseres, o amor é apenas porque sim. Mesmo se o deixares a secar no meu coração, ainda assim, ainda assim, meu amor, ele voltaria a renascer para ti tão intenso como no primeiro momento que me entreguei.
Que sabem eles do amor, quando sorriem com o meu vazio, quando aguardam que tropece, que caia, que me quebre, que me descubra sozinha dentro do arremesso do futuro.
Que sabem eles do amor, quando desistem ainda nem amanheceu, partem sem querer saber se respiro, se a pele ainda se mantém inteira, cosida, remendada.
Que sabem eles do amor, quando tudo o que pensam é na perda, na ausência, na expectativa que seja infeliz, que me inunde em lágrimas e torpor?
Que sabem eles de mim?
Mesmo quando te forço a partir eu olho para trás e tudo o que vejo és tu.
Mesmo quando sei que me destróis, que te destróis, que chegámos a um ponto sem retorno, que ficas melhor sem o teu porto seguro, que precisas que te impeça de me teres, mesmo quando concluo que precisamos que termine agora, mesmo assim, tudo o que quero é que sejas feliz.
Ainda que sem mim. Ainda que a tua felicidade seja longe, eu estarei sempre perto, sempre a garantir que não tropeças, que não te inundas de lágrimas, que não estás sozinho, nunca ficarás sozinho enquanto respirar.
Ainda que não ouças a minha voz. Ainda que não vejas o meu rosto. Ainda que eu espreite o teu sorriso de longe e não me ouças chegar e não me vejas partir. Ainda que o teu sorriso se vista do meu vazio.
Ainda assim. Se sorrires irei sorrir, se estiveres feliz, o meu coração irá ter alguma paz, se te souber inteiro.
E continuarei a amar-te. Mesmo que estejas longe. Porque o amor não termina. Não tem um fim. Tem apenas reticências.
A minha maior tragédia é saber que ninguém entende o meu amor por ti porque na realidade, todos os que dizem amar-me jamais o fizeram.
Amar dói. Amar exige do coração. Amar é incondicional. Amar é perdão e continuidade. Amar é tempo. É história. É partir e regressar. É dar mesmo quando não se recebe. É sorrir mesmo quando queremos chorar. É abraçar-te mesmo quando me magoaste, mesmo quando está tanto frio aqui.
Não preciso que me entendam. Não preciso que me aceitem. Nem sequer preciso que me respeitem. Preciso apenas e tão somente ver-te feliz.
Etiquetas:
Poesia
segunda-feira, 25 de abril de 2011
A escravidão do amor
Desperto.
Os olhos queimados de lágrimas ásperas que beijaram o coração
antes de se perderem na linha do rosto.
Tenho os pulsos amarrados à cama onde repousas à noite.
Observo-te, louca. Louca de amor e de pertença,
nua, entregue, rendida. Não há mais espaço fora do teu corpo,
não há outra pele, outro começo. Nada mais existe
para além do teu sorriso. És o perigo, a aresta, a inexistência
de limites, és o silêncio em que grito, és tu, sempre foste tu,
sempre serás tu, em mim.
Vejo-te respirar, imagino os sonhos que te inquietam o sono.
Dói respirar. Dói-me o amor que me rasga a pele,
que transborda para os lençóis, que escorrega para o chão.
Que inunda o quarto.
Nada mais tenho para te oferecer do que a minh'alma,
o corpo, nada mais tenho que eu mesma.
Incompleta. Partirás um dia. Em busca do outro lado
de ti próprio. Partirás um dia e isso quebra-me.
Imagino que terei a dignidade de não perseguir os teus passos,
que não aguardarei com a garganta sufocada que coloques os pés
nas pegadas que te levaram para longe e regresses.
Imagino o silêncio, o grito, o abandono.
Recordo os momentos em que não estavas. E sei,
que sempre soube que irias voltar. Nunca estiveste ausente.
Mesmo quando jurei a mim mesma não te conhecer.
Mesmo quando quis odiar-te com a mesma intensidade
com que te amo. Mesmo quando proibi os meus lábios
de proferirem o teu nome.
A linha do meu coração levará sempre aos teus lábios,
ao azul dos teus olhos. E menti. Menti a mim e a outros,
menti que não te amo, que não te quero, que não te desejo
com a intensidade da loucura. E com a mentira hipotequei
a dignidade, perdi-me de mim, fui outra, fui menos do que sou.
Finji-me, violei-me, virei-me do avesso.
Vejo-te e adivinho-te as ânsias. As perfeições. As imperfeições.
Estou amarrada às tuas pálpebras.
E hoje assumo o que sinto, o amor que tolda a visão,
que me dobra, me verga a vontade, a incondicionalidade feroz
do desejo, das minhas mãos na tua pele.
Não quero mais negar-me a verdade, o néctar
proibido que me fere os lábios.
Preciso que o tempo não corra. Que se eternize o momento
em que posso fitar-te, o semblante adormecido
a imobilizar-me a ternura.
Tudo o que sou. Tudo, meu amor. Tudo o que sou,
é teu. Até quando partires. Será sempre teu.
Escrava, boneca, puta, imensa, pequena,
frágil, intensa, maremoto, brisa,
menina, mulher, nua, a alma, o corpo, o coração,
tudo.
Os olhos queimados de lágrimas ásperas que beijaram o coração
antes de se perderem na linha do rosto.
Tenho os pulsos amarrados à cama onde repousas à noite.
Observo-te, louca. Louca de amor e de pertença,
nua, entregue, rendida. Não há mais espaço fora do teu corpo,
não há outra pele, outro começo. Nada mais existe
para além do teu sorriso. És o perigo, a aresta, a inexistência
de limites, és o silêncio em que grito, és tu, sempre foste tu,
sempre serás tu, em mim.
Vejo-te respirar, imagino os sonhos que te inquietam o sono.
Dói respirar. Dói-me o amor que me rasga a pele,
que transborda para os lençóis, que escorrega para o chão.
Que inunda o quarto.
Nada mais tenho para te oferecer do que a minh'alma,
o corpo, nada mais tenho que eu mesma.
Incompleta. Partirás um dia. Em busca do outro lado
de ti próprio. Partirás um dia e isso quebra-me.
Imagino que terei a dignidade de não perseguir os teus passos,
que não aguardarei com a garganta sufocada que coloques os pés
nas pegadas que te levaram para longe e regresses.
Imagino o silêncio, o grito, o abandono.
Recordo os momentos em que não estavas. E sei,
que sempre soube que irias voltar. Nunca estiveste ausente.
Mesmo quando jurei a mim mesma não te conhecer.
Mesmo quando quis odiar-te com a mesma intensidade
com que te amo. Mesmo quando proibi os meus lábios
de proferirem o teu nome.
A linha do meu coração levará sempre aos teus lábios,
ao azul dos teus olhos. E menti. Menti a mim e a outros,
menti que não te amo, que não te quero, que não te desejo
com a intensidade da loucura. E com a mentira hipotequei
a dignidade, perdi-me de mim, fui outra, fui menos do que sou.
Finji-me, violei-me, virei-me do avesso.
Vejo-te e adivinho-te as ânsias. As perfeições. As imperfeições.
Estou amarrada às tuas pálpebras.
E hoje assumo o que sinto, o amor que tolda a visão,
que me dobra, me verga a vontade, a incondicionalidade feroz
do desejo, das minhas mãos na tua pele.
Não quero mais negar-me a verdade, o néctar
proibido que me fere os lábios.
Preciso que o tempo não corra. Que se eternize o momento
em que posso fitar-te, o semblante adormecido
a imobilizar-me a ternura.
Tudo o que sou. Tudo, meu amor. Tudo o que sou,
é teu. Até quando partires. Será sempre teu.
Escrava, boneca, puta, imensa, pequena,
frágil, intensa, maremoto, brisa,
menina, mulher, nua, a alma, o corpo, o coração,
tudo.
Etiquetas:
Poesia
domingo, 30 de janeiro de 2011
Red Riding Hood
Sinto o teu coração inverter as cores com que gravei as ideias,
as noções e a ternura. Expludo e impludo na ponta dos teus dedos,
na curva dos teus lábios, na curiosidade erótica da tua língua.
O mundo fora das linhas do ser deixa de ter regras, indefino a máscara
com que me oculto dos outros. Deixo-a cair a teus pés.
Esta sou eu. A raposa. A fada. E o capuchinho. Vermelho rubro
de paixão com que me devoras. Submerjo nas tuas palavras,
nos silêncios, nas partilhas e nas emoções.
No caos da identidade questiono e requestiono as ideias, as conclusões,
as imagens e os sentimentos. E unifico-me.
Abarcas-me inteira. Queimas-me a pele e a alma.
as noções e a ternura. Expludo e impludo na ponta dos teus dedos,
na curva dos teus lábios, na curiosidade erótica da tua língua.
O mundo fora das linhas do ser deixa de ter regras, indefino a máscara
com que me oculto dos outros. Deixo-a cair a teus pés.
Esta sou eu. A raposa. A fada. E o capuchinho. Vermelho rubro
de paixão com que me devoras. Submerjo nas tuas palavras,
nos silêncios, nas partilhas e nas emoções.
No caos da identidade questiono e requestiono as ideias, as conclusões,
as imagens e os sentimentos. E unifico-me.
Abarcas-me inteira. Queimas-me a pele e a alma.
Etiquetas:
Poesia
sábado, 22 de janeiro de 2011
Sangue das veias
O reencontro com o passado prova-me que noutras épocas fui muito mais aguda e acutilante.
Tinha palavras dentro de mim que rasgavam a penumbra e iluminavam a escuridão.
Atravessavam o comodismo, traziam consigo o sabor acre da verdade.
E hoje tenho o peito cheio de lágrimas e a voz vazia. As pessoas que amei deixaram-se a si próprias, despiram as suas peles e metaforsearam-se em cópias distorcidas de si.
Hoje, nada mais me sobra que o medo de ser eu mesma. Querem ensinar-me a paciência. O valor da cautela e da prudência.
E eu quero explodir, implodir, acabar com tudo, transformar o caminho em pó, não quero paciência, não quero ser cautelosa, não quero ter medo, não quero nada, não quero sequer sentir, quero a acalmia que antecede o vulcão, quero não querer.
E os que partiram, voltam a espaços, assombrar-me os sonhos e a aparente serenidade.
Onde estás, afinal? Que angústias toldam o teu sentir? Ela não sou eu. É um facto linear. É um facto tão linear que me dá vontade de rir até não restar em mim nada mais que a fúria do ridículo.
Se estivesses aqui dirias que compreendes a ânsia de quebrar tudo o que construo, apagar tudo, recriar-me, abster-me, lançar-me de um abismo. Se estivesses aqui dirias que te arde a pele da mágoa. Se estivesses aqui dirias imensas coisas e não dirias absolutamente nada.
Ela não sou eu. Nem nunca será. E tu nunca mais serás tu. Porque a tua imagem só existe quando sou eu que te apreendo.
Se estivesses aqui sei que não hesitarias em deixar-me cair, em atirar-me todas as palavras erradas.
E ainda assim onde estás desperdiças a poesia, a alma, o corpo, a pele, a ânsia, o degredo, o abismo por algo que te faz um qualquer sentido. E quando me invades a psique dizes-me apenas "Ela não é a Sílvia.". Não. Não é. Eu garanto-te que te atirava de um abismo, que havia de te rasgar até sangrares, até sentires.
Conheço-te perfeitamente as dúvidas e as angústias. As palavras desnudam-te a alma. Assim como a ausência de palavras.
Hoje é dia de me atirar de um abismo e deixar o silêncio engolir-me. Hoje não estás aqui para me vigiar a queda e garantires que a última coisa que ouço é a tua voz.
Hoje não estás aqui. E no entanto, as veias pulsam-te devagar, algures onde estás. E sabes que hoje é dia de nos atirarmos para um abismo.
Chega de paciência. Chega de pensar. Chega de prudência. Chega de sorrisos e gargalhadas. Hoje chega. E o abismo lá em baixo a chamar por mim e a loucura a assomar-se. E eu aqui. Suspensa.
E tu, algures a sentir de forma distorcida. Se estivesses aqui dirias: "Ainda me vês?" Sim, ainda te vejo. E essa seria a imagem que teria na altura da queda.
Não esperes que alguém te compreenda. Ninguém o fará. Não esperes que te observem enquanto sentes o ar a passar-te no rosto e as asas a abrirem-se no preciso momento que julgas que irás terminar tudo. Não esperes que empatizem com a necessidade de destruir e no caos reencontrar o equilíbrio. Não esperes que ela seja eu. Nunca será.
Eu não espero.
Mas por hoje, não serei paciente. Nem certa. Nem terei medo das palavras e da dor.
Hoje vou lançar-me num abismo até sentir as asas a abrirem-se no momento que antecede o fim.
Tinha palavras dentro de mim que rasgavam a penumbra e iluminavam a escuridão.
Atravessavam o comodismo, traziam consigo o sabor acre da verdade.
E hoje tenho o peito cheio de lágrimas e a voz vazia. As pessoas que amei deixaram-se a si próprias, despiram as suas peles e metaforsearam-se em cópias distorcidas de si.
Hoje, nada mais me sobra que o medo de ser eu mesma. Querem ensinar-me a paciência. O valor da cautela e da prudência.
E eu quero explodir, implodir, acabar com tudo, transformar o caminho em pó, não quero paciência, não quero ser cautelosa, não quero ter medo, não quero nada, não quero sequer sentir, quero a acalmia que antecede o vulcão, quero não querer.
E os que partiram, voltam a espaços, assombrar-me os sonhos e a aparente serenidade.
Onde estás, afinal? Que angústias toldam o teu sentir? Ela não sou eu. É um facto linear. É um facto tão linear que me dá vontade de rir até não restar em mim nada mais que a fúria do ridículo.
Se estivesses aqui dirias que compreendes a ânsia de quebrar tudo o que construo, apagar tudo, recriar-me, abster-me, lançar-me de um abismo. Se estivesses aqui dirias que te arde a pele da mágoa. Se estivesses aqui dirias imensas coisas e não dirias absolutamente nada.
Ela não sou eu. Nem nunca será. E tu nunca mais serás tu. Porque a tua imagem só existe quando sou eu que te apreendo.
Se estivesses aqui sei que não hesitarias em deixar-me cair, em atirar-me todas as palavras erradas.
E ainda assim onde estás desperdiças a poesia, a alma, o corpo, a pele, a ânsia, o degredo, o abismo por algo que te faz um qualquer sentido. E quando me invades a psique dizes-me apenas "Ela não é a Sílvia.". Não. Não é. Eu garanto-te que te atirava de um abismo, que havia de te rasgar até sangrares, até sentires.
Conheço-te perfeitamente as dúvidas e as angústias. As palavras desnudam-te a alma. Assim como a ausência de palavras.
Hoje é dia de me atirar de um abismo e deixar o silêncio engolir-me. Hoje não estás aqui para me vigiar a queda e garantires que a última coisa que ouço é a tua voz.
Hoje não estás aqui. E no entanto, as veias pulsam-te devagar, algures onde estás. E sabes que hoje é dia de nos atirarmos para um abismo.
Chega de paciência. Chega de pensar. Chega de prudência. Chega de sorrisos e gargalhadas. Hoje chega. E o abismo lá em baixo a chamar por mim e a loucura a assomar-se. E eu aqui. Suspensa.
E tu, algures a sentir de forma distorcida. Se estivesses aqui dirias: "Ainda me vês?" Sim, ainda te vejo. E essa seria a imagem que teria na altura da queda.
Não esperes que alguém te compreenda. Ninguém o fará. Não esperes que te observem enquanto sentes o ar a passar-te no rosto e as asas a abrirem-se no preciso momento que julgas que irás terminar tudo. Não esperes que empatizem com a necessidade de destruir e no caos reencontrar o equilíbrio. Não esperes que ela seja eu. Nunca será.
Eu não espero.
Mas por hoje, não serei paciente. Nem certa. Nem terei medo das palavras e da dor.
Hoje vou lançar-me num abismo até sentir as asas a abrirem-se no momento que antecede o fim.
Etiquetas:
Poesia
sábado, 18 de dezembro de 2010
Ruy Belo - Mas que sei eu
"Mas que sei eu das folhas no outono
ao vento vorazmente arremessadas
quando eu passo pelas madrugadas
tal como passaria qualquer dono?
Eu sei que é vão o vento e lento o sono
e acabam coisas mal principiadas
no ínvio precipício das geadas
que pressinto no meu fundo abandono
Nenhum súbito lamenta
a dor de assim passar que me atormenta
e me ergue no ar como outra folha
qualquer. Mas eu sei que sei destas manhãs?
As coisas vêm vão e são tão vãs
como este olhar que ignoro que me olha"
ao vento vorazmente arremessadas
quando eu passo pelas madrugadas
tal como passaria qualquer dono?
Eu sei que é vão o vento e lento o sono
e acabam coisas mal principiadas
no ínvio precipício das geadas
que pressinto no meu fundo abandono
Nenhum súbito lamenta
a dor de assim passar que me atormenta
e me ergue no ar como outra folha
qualquer. Mas eu sei que sei destas manhãs?
As coisas vêm vão e são tão vãs
como este olhar que ignoro que me olha"
Etiquetas:
Poesia
quinta-feira, 16 de dezembro de 2010
Miguel Torga - Exortação
Para a fs1 e a fs3 :) Não é assim?
"Em nome do teu nome,
Que é viril,
E leal,
E limpo, na concisa brevidade —
Homem, lembra-te bem!
Sê viril,
E leal,
E limpo, na concisa condição.
Traz à compreensão
Todos os sentimentos recalcados
De que te sentes dono envergonhado;
Leva, dourado,
O sol da consciência
As íntimas funduras do teu ser,
Onde moram
Esses monstros que temes enfrentar.
Os leões da caverna só devoram
Quem os ouve rugir e se recusa a entrar.
"Em nome do teu nome,
Que é viril,
E leal,
E limpo, na concisa brevidade —
Homem, lembra-te bem!
Sê viril,
E leal,
E limpo, na concisa condição.
Traz à compreensão
Todos os sentimentos recalcados
De que te sentes dono envergonhado;
Leva, dourado,
O sol da consciência
As íntimas funduras do teu ser,
Onde moram
Esses monstros que temes enfrentar.
Os leões da caverna só devoram
Quem os ouve rugir e se recusa a entrar.
quarta-feira, 8 de dezembro de 2010
Sal das feridas
Vivo na tua retina. Presa no momento antes do orgasmo.
Vivo suspensa na tua respiração. Sempre que te recordo,
a minha imagem solta-se da tua memória
para o agreste do teu presente. Quando o sentimento
me agride a garganta, ouves o teu nome e as palavras
que guardei dentro de ti. Vivo na tua desesperança.
No intenso da tua negação. Sempre que te aprisiono
é o meu sorriso que tolda a tua linha de pensamento.
O teu olho desvia-se da rota que lhe desenhaste
para se quedar na perfeição da nossa ligação.
Em todos os momentos que juras jamais saber
os meus pontos finais e as reticências.
Em cada segundo que lhe seguras as ancas
é o meu gemido que ouves.
Vivo no vislumbre de um raio de sol, mesmo quando
garantes a liberdade do teu coração, mesmo quando
prometes as promessas com que agrilhoas a vontade.
E se alivias a pressão com que finges sonhar
são os meus lábios no teu sexo, é a minha língua
na tua barriga, é a minha mão na tua pele.
Vivo no escuro da tua alma.
A minha mente seduz a tua indecisão, a angústia
que te embala as vontades, o pulso com que
resolves as aparências. O perigo do meu ventre.
O sabor da minha inocência perdida.
O trago amargo do sangue.
Vivo no sal das tuas feridas.
Vivo suspensa na tua respiração. Sempre que te recordo,
a minha imagem solta-se da tua memória
para o agreste do teu presente. Quando o sentimento
me agride a garganta, ouves o teu nome e as palavras
que guardei dentro de ti. Vivo na tua desesperança.
No intenso da tua negação. Sempre que te aprisiono
é o meu sorriso que tolda a tua linha de pensamento.
O teu olho desvia-se da rota que lhe desenhaste
para se quedar na perfeição da nossa ligação.
Em todos os momentos que juras jamais saber
os meus pontos finais e as reticências.
Em cada segundo que lhe seguras as ancas
é o meu gemido que ouves.
Vivo no vislumbre de um raio de sol, mesmo quando
garantes a liberdade do teu coração, mesmo quando
prometes as promessas com que agrilhoas a vontade.
E se alivias a pressão com que finges sonhar
são os meus lábios no teu sexo, é a minha língua
na tua barriga, é a minha mão na tua pele.
Vivo no escuro da tua alma.
A minha mente seduz a tua indecisão, a angústia
que te embala as vontades, o pulso com que
resolves as aparências. O perigo do meu ventre.
O sabor da minha inocência perdida.
O trago amargo do sangue.
Vivo no sal das tuas feridas.
Etiquetas:
Poesia
quarta-feira, 3 de novembro de 2010
Fernando Pessoa - Já não me importo
A avaliar pelas imagens de satélite é mesmo melhor ficar quietinha.
"Já não me importo
Até com o que amo ou creio amar.
Sou um navio que chegou a um porto
E cujo movimento é ali estar.
Nada me resta
Do que quis ou achei.
Cheguei da festa
Como fui para lá ou ainda irei
Indiferente
A quem sou ou suponho que mal sou,
Fito a gente
Que me rodeia e sempre rodeou,
Com um olhar
Que, sem o poder ver,
Sei que é sem ar
De olhar a valer.
E só me não cansa
O que a brisa me traz
De súbita mudança
No que nada me faz."
Etiquetas:
Poesia
segunda-feira, 18 de outubro de 2010
In Memoriam - Reinaldo Ferreira
Já que eu não me consigo exprimir em condições (parece que o IC anda com sonhos agitados), deixo aqui uma sugestão de quem o fazia bastante bem.
Contente nunca estou; feliz não sei
"Contente nunca estou; feliz não sei
Se existe alguém ou neste ou noutro mundo.
Vou para o Nada, sou do Nada oriundo,
E entre dois Nadas desventura é Lei.
Da cobarde esperança emancipei
A previsão do meu destino imundo.
Sou consciente do mal em que me afundo,
E consciente do mal continuarei.
Nem revolta me fica, apenas pressa
De me tornar por fim parada peça
No cósmico rolar nefasto e louco.
Depois quero dormir um sono enorme
Que para uma aflição que nunca dorme,
A Morte, temo bem que seja pouco."
Regresso de parte alguma
"Regresso de parte alguma
Rico mais do que partira,
Pois trago coisa nenhuma
Sem desespero e sem ira.
Agora vivo contente
No meu exílio sereno;
Tomei tamanho de gente
E não me dói ser pequeno.
Pedra parada na calma
Tranquilidade dos charcos,
Deixem dormir minha alma,
Como apodrecem os barcos."
Contente nunca estou; feliz não sei
"Contente nunca estou; feliz não sei
Se existe alguém ou neste ou noutro mundo.
Vou para o Nada, sou do Nada oriundo,
E entre dois Nadas desventura é Lei.
Da cobarde esperança emancipei
A previsão do meu destino imundo.
Sou consciente do mal em que me afundo,
E consciente do mal continuarei.
Nem revolta me fica, apenas pressa
De me tornar por fim parada peça
No cósmico rolar nefasto e louco.
Depois quero dormir um sono enorme
Que para uma aflição que nunca dorme,
A Morte, temo bem que seja pouco."
Regresso de parte alguma
"Regresso de parte alguma
Rico mais do que partira,
Pois trago coisa nenhuma
Sem desespero e sem ira.
Agora vivo contente
No meu exílio sereno;
Tomei tamanho de gente
E não me dói ser pequeno.
Pedra parada na calma
Tranquilidade dos charcos,
Deixem dormir minha alma,
Como apodrecem os barcos."
Etiquetas:
Poesia
quinta-feira, 7 de outubro de 2010
Raul de Carvalho - Coração sem Imagens
Ainda tenho dias assim.
"Deito fora as imagens,
Sem ti para que me servem
as imagens?
Preciso habituar-me
a substituir-te
pelo vento,
que está em toda a parte
e cuja direcção
é igualmente passageira
e verídica.
Preciso habituar-me ao eco dos teus passos
numa casa deserta,
ao trémulo vigor de todos os teus gestos
invisíveis,
à canção que tu cantas e que mais ninguém ouve
a não ser eu.
Serei feliz sem as imagens.
As imagens não dão
felicidade a ninguém.
Era mais difícil perder-te,
e, no entanto, perdi-te.
Era mais difícil inventar-te,
e eu te inventei.
Posso passar sem as imagens
assim como posso
passar sem ti.
E hei-de ser feliz ainda que
isso não seja ser feliz."
domingo, 3 de outubro de 2010
In Memoriam - Antero de Quental
Amor Vivo
"Amar! Mas
de um amor que tenha vida...
Não sejam sempre tímidos harpejos,
Não sejam só delírios e desejos
De uma doida cabeça escandecida...
Amor que viva e brilhe! Luz fundida
Que penetre o meu ser - e não só beijos
Dados no ar - delírios e desejos -
Mas amor...dos amores que tem vida...
Sim, vivo e quente! E já a luz do dia
Não virá dissipá-lo nos meus braços
Como névoa da vaga fantasia...
Nem murchará do sol a chama erguida ...
Pois que podem os astros dos espaços
Contra uns débeis amores... se têm vida?"
"Amar! Mas
de um amor que tenha vida...
Não sejam sempre tímidos harpejos,
Não sejam só delírios e desejos
De uma doida cabeça escandecida...
Amor que viva e brilhe! Luz fundida
Que penetre o meu ser - e não só beijos
Dados no ar - delírios e desejos -
Mas amor...dos amores que tem vida...
Sim, vivo e quente! E já a luz do dia
Não virá dissipá-lo nos meus braços
Como névoa da vaga fantasia...
Nem murchará do sol a chama erguida ...
Pois que podem os astros dos espaços
Contra uns débeis amores... se têm vida?"
Etiquetas:
Poesia
sábado, 2 de outubro de 2010
Os dias em que morro dentro de mim mesma
Espaços. Dentro do coração.
Espaços dentro da alma, que desenham ausências nas mãos.
Espaços em que grito e me silencio.
Abarco as injustiças, os medos, as demências, os teus sonhos
e os meus. Num abraço mudo.
Fendas. Que rompem as tapeçarias com que vesti
as paredes da casa. Da mente. Das palavras.
Eu ainda sou tão eu.
Num quarto, numa casa, num momento pálido.
E por vezes o vermelho atravessa o tempo.
Alcança-me. Poderoso. O destino é medíocre
e eu talvez possa ser feliz dentro da mediocridade
de um país falido, de uma moralidade negada, de um coração
roto por dentro. Espaços.
Espaços em que consigo ser eu.
Espaços em que o amanhã é agora.
Espaços. Rasgões. Vislumbres. Lágrimas. Risadas.
Sentimentos. Eu ainda sei sentir.
A morte tão perto e tão longe. Ainda não. Ainda não ganhei o direito de cair numa queda eterna e maternal.
A morte a espaços.
Os dias em que morro dentro de mim mesma.
Espaços dentro da alma, que desenham ausências nas mãos.
Espaços em que grito e me silencio.
Abarco as injustiças, os medos, as demências, os teus sonhos
e os meus. Num abraço mudo.
Fendas. Que rompem as tapeçarias com que vesti
as paredes da casa. Da mente. Das palavras.
Eu ainda sou tão eu.
Num quarto, numa casa, num momento pálido.
E por vezes o vermelho atravessa o tempo.
Alcança-me. Poderoso. O destino é medíocre
e eu talvez possa ser feliz dentro da mediocridade
de um país falido, de uma moralidade negada, de um coração
roto por dentro. Espaços.
Espaços em que consigo ser eu.
Espaços em que o amanhã é agora.
Espaços. Rasgões. Vislumbres. Lágrimas. Risadas.
Sentimentos. Eu ainda sei sentir.
A morte tão perto e tão longe. Ainda não. Ainda não ganhei o direito de cair numa queda eterna e maternal.
A morte a espaços.
Os dias em que morro dentro de mim mesma.
Etiquetas:
Poesia
quarta-feira, 29 de setembro de 2010
In Memoriam - Sophia de Mello Breyner Andresen
Dedicado à fs1.
Ausência
"Num deserto sem água
Numa noite sem lua
Num país sem nome
Ou numa terra nua
Por maior que seja o desespero
Nenhuma ausência é mais funda do que a tua."
Ausência
"Num deserto sem água
Numa noite sem lua
Num país sem nome
Ou numa terra nua
Por maior que seja o desespero
Nenhuma ausência é mais funda do que a tua."
Etiquetas:
Poesia
segunda-feira, 27 de setembro de 2010
Pablo Neruda
Há muito tempo atrás num outro reino alguém me escreveu e me entregou estas palavras no interior de um documento aparentemente nada relacionado com esta poesia.
A coisa intrigou-me e nesse momento percebi que independentemente daquilo que eu fosse, ser era em si um grande objectivo... E passei a SER cada vez mais da maneira que sei SER...
Depois procurei estas palavras muito tempo, lembrava-me pouco delas, não conseguia ir seu ao encontro.. e elas agora vieram ter comigo quando voltei a duvidar do que estava a SER...
Portanto... hoje posso voltar a gritar que... SOU..
E vocês.. por favor... SEJAM!!!
E bem-hajam por isso.
Sê (Pablo Neruda)
Se não puderes ser um pinheiro, no topo de uma colina,
Sê um arbusto no vale mas sê
O melhor arbusto à margem do regato.
Sê um ramo, se não puderes ser uma árvore.
Se não puderes ser um ramo, sê um pouco de relva
E dá alegria a algum caminho.
Se não puderes ser uma estrada,
Sê apenas uma senda,
Se não puderes ser o Sol, sê uma estrela.
Não é pelo tamanho que terás êxito ou fracasso...
Mas sê o melhor no que quer que sejas.
A coisa intrigou-me e nesse momento percebi que independentemente daquilo que eu fosse, ser era em si um grande objectivo... E passei a SER cada vez mais da maneira que sei SER...
Depois procurei estas palavras muito tempo, lembrava-me pouco delas, não conseguia ir seu ao encontro.. e elas agora vieram ter comigo quando voltei a duvidar do que estava a SER...
Portanto... hoje posso voltar a gritar que... SOU..
E vocês.. por favor... SEJAM!!!
E bem-hajam por isso.
Sê (Pablo Neruda)
Se não puderes ser um pinheiro, no topo de uma colina,
Sê um arbusto no vale mas sê
O melhor arbusto à margem do regato.
Sê um ramo, se não puderes ser uma árvore.
Se não puderes ser um ramo, sê um pouco de relva
E dá alegria a algum caminho.
Se não puderes ser uma estrada,
Sê apenas uma senda,
Se não puderes ser o Sol, sê uma estrela.
Não é pelo tamanho que terás êxito ou fracasso...
Mas sê o melhor no que quer que sejas.
segunda-feira, 12 de abril de 2010
Labirinto
Abarco as ausências como quem abraça o silêncio.
Construo palavras, pontes entre mim e os outros.
Explico-me, redefino-me.
Reinvento-me.
Apago-me inteira.
Quem era, deixei de ser há muito.
Aos poucos morri dentro de mim.
E renasci menos eu.
Outrora conheci medos e sentimentos
que me corroeram o coração.
Sentia toda a intensidade lavar-me,
era imensa e sabia tocar a parte mais suave
da alma.
Hoje sou apenas parte do que fui.
E nessa parte, escondo-te.
Na tua mente, existe um labirinto.
Vejo-te percorrê-lo tantas e tantas vezes.
Escondo-te.
Guardo-te, recluso no coração.
E esqueço-te. Dentro do ventrículo.
Não fales. Não sussurres. Não sonhes.
Quem era, deixei de ser há muito.
Morri dentro de mim.
Construo palavras, pontes entre mim e os outros.
Explico-me, redefino-me.
Reinvento-me.
Apago-me inteira.
Quem era, deixei de ser há muito.
Aos poucos morri dentro de mim.
E renasci menos eu.
Outrora conheci medos e sentimentos
que me corroeram o coração.
Sentia toda a intensidade lavar-me,
era imensa e sabia tocar a parte mais suave
da alma.
Hoje sou apenas parte do que fui.
E nessa parte, escondo-te.
Na tua mente, existe um labirinto.
Vejo-te percorrê-lo tantas e tantas vezes.
Escondo-te.
Guardo-te, recluso no coração.
E esqueço-te. Dentro do ventrículo.
Não fales. Não sussurres. Não sonhes.
Quem era, deixei de ser há muito.
Morri dentro de mim.
Etiquetas:
Poesia
domingo, 7 de fevereiro de 2010
A chama
Irrompo no mundo como uma chama incandescente de raiva e absolutismo.
Trago-te o comovente sussurrar da paixão.
O infalível sorriso da tristeza. O trago amargo da verdade.
Aflijo o coração de Deus com as lágrimas com que
provo as falhas da humanidade. Movo o corpo
languidamente, a pele inundada de memórias, sei como
te inflamar o sexo e o laço. Sei como te trazer até mim,
sei de cor o que dirás, o que farás, a urgência das mãos,
os lábios a rasgarem-me o isolamento.
Irrompo no seio do destino, o grito, a impaciência,
o tempo entre um suspiro e o orgasmo, a ternura de
mãos que se conhecem. O sol e lua. A flor que desperta
a Primavera. O nevão que anuncia a hibernação do ser.
Apaixonas-te por mim. Previsivelmente.
Trago-te o comovente sussurrar da paixão.
O infalível sorriso da tristeza. O trago amargo da verdade.
Aflijo o coração de Deus com as lágrimas com que
provo as falhas da humanidade. Movo o corpo
languidamente, a pele inundada de memórias, sei como
te inflamar o sexo e o laço. Sei como te trazer até mim,
sei de cor o que dirás, o que farás, a urgência das mãos,
os lábios a rasgarem-me o isolamento.
Irrompo no seio do destino, o grito, a impaciência,
o tempo entre um suspiro e o orgasmo, a ternura de
mãos que se conhecem. O sol e lua. A flor que desperta
a Primavera. O nevão que anuncia a hibernação do ser.
Apaixonas-te por mim. Previsivelmente.
Etiquetas:
Poesia
sexta-feira, 8 de janeiro de 2010
Sogno
A realidade sempre foi mais fria que o sonho e as cores fortes da ilusão.
As cores com que embelezei a tua pele, vesti o teu corpo.
Recriei-te em mim e em mim não podias jamais ser outro
que não o homem mistério-eternidade.
O menino pertença-abismo.
Do teu sorriso recriei um arco-íris.
Das tuas mãos recriei todo um abrigo.
O espaço onde escondi todos os meus segredos
e evidências. De ti renasci e morri todas as noites
e todos os dias, marcada pela doença e pela intensidade
das emoções. E o tempo deixou de ser tempo.
E a terra deixou de ser terra.
E o dia nasceu em que os meus olhos não te reconheceram.
Em que os segredos te brotaram das impaciências
e vieram morrer-me aos pés, secos, negligenciados.
Era eu a fitar-te. Era Ela. Ela, que é imensa e fria.
Que tem olhos de fénix. Que tem asas de demónio.
Ela, que perfurou a ilusão com que te vesti e eras tão tu,
ali, tão banal, tão humano?
O coração estilhaçou-se-me em mil pedaços, a tua voz
a afirmar que é tudo normal, que noutros mundos,
outras mulheres também geravam desinteresse.
E o meu coração estilhaçado, ela altiva a observar-te,
a rir-se, a achar tudo tão ridículo, a murmurar-me que afinal
tu sempre foste apenas mais um pássaro a esvoaçar
dentro de uma gaiola. A tua mente curvada
perante o peso imenso da sociedade. E o meu coração,
que é Dela também, estilhaçado, a sorrir-se de aborrecimento
e nojo. E a alma acordou, esticou os filamentos entorpecidos
como quem acorda de um sonho demasiadamente longo,
a alma acordou, segurou o coração estilhaçado e eu entreguei-me
a Ela. E com os seus olhos tudo o que vi foi o comum.
Não me quedarei nua a teus pés,
os olhos sem véus, não mais.
A realidade sempre foi mais fria que o sonho e as cores fortes.
Da ilusão.
Etiquetas:
Poesia
Subscrever:
Mensagens (Atom)