sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Reboot

Quando eu era mais jovem não era uma pessoa particularmente crente no destino. Em parte percebe-se o porquê. Tinha ainda muitos aninhos de juventude pela frente, objectivos por cumprir, um manancial de sonhos (deveras irrealizáveis), muitas questões, poucas respostas e, fundamentalmente, uma esperança enorme que me corria nas veias e me impelia a viver a vida com emoção.

Hoje, alguns anos volvidos, o cenário alterou-se ligeiramente. A juventude vai-se atenuando no passar dos anos e tento fingir que já sou uma mulherzinha (uns dias melhores que outros, parece-me). Os objectivos atropelam-se mutuamente, independentemente de ser tangíveis ou não. Os sonhos tenho-os durante a noite, nos dias em que me consigo lembrar deles (ainda que parcelarmente), e por vezes transformam-se em pesadelos, condicionando-me o estado de espírito do dia que se vai iniciar. Já não tenho tantas questões e já vou tendo algumas respostas mas, infelizmente, tenho agora questões bem mais complexas às quais, possivelmente, nunca conseguirei responder de todo. Quanto à esperança ... bom, essa esgotei-a toda durante o percurso. Hoje opero unicamente com base no princípio da realidade.

Faço este pequeno preâmbulo apenas para me posicionar perante a minha situação actual. Uma pequena frase provocou-me um autêntico reboot. Subitamente, foi como se me tivessem retirado um conjunto de informações abruptamente, um bloco inteiro de passado que se diluiu na minha memória. Faço um esforço enorme para me recordar das coisas e do seu encadeamento, para perceber o que me incomodou e tentar aferir a sua magnitude, mas não consigo. Ficou um vazio que não consigo explicar, pura e simplesmente. E dos poucos raciocínios que consegui estruturar com o mínimo de sentido lógico, só um me pareceu coerente: o destino.

Afinal de contas, sendo descrente em tudo o resto, sou hoje crente no destino. Fazendo um pouco o papel de espectadora da minha própria vida, consigo observar uma pequena coincidência que é a resposta directa à questão que eu coloquei. A curiosidade é que eu tinha a resposta comigo, ainda que de forma subliminar. Falo duma pequena sequência de eventos que, agregada, passou a fazer sentido num determinado contexto.
Mas a vida também é isto, estar atento aos pormenores, mesmo aos mais ínfimos. Faz-me lembrar aquela típica cena num filme em que poucos vão reparar, mas que encerra em si todo o significado da trama.
A decomposição das palavras por vezes é caricata. Em tempos chamaste-me a mim o que hoje lhe chamas a ela. O destino passou-me uma mensagem tão subliminar e tão arguta numa fase em que eu estava demasiado alienada para a entender. Viver a vida que os outros idealizam para nós às vezes dá nestas situações: sai de cena quem não é de cena.



2 comentários:

fs1 disse...

sim fs. e as cenas não são nossas. definitivamente.

Anónimo disse...

Reli novamente este texto.
Sabes fs2, acredito que a única coisa que podemos garantir, excepto no campo da saúde em que a força da genética impera, é a escolha em participar, isto é, em ser actor/agente de um determinado cenário/contexto. Tudo o resto, ou seja, todas as outras variáveis que compöem esse mesmo contexto, estão fora do nosso controlo, mas podem estar (em grande medida - mas não na totalidade) e pertencer ao nosso entendimento do impacto que têm, ou podem ter, em nós.
Gostei do texto, e gosto do destino como resultado da nossa escolha cruzada com o contexto em que optamos estar. :)
Continua a escrever... Bom blog

 

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