terça-feira, 31 de janeiro de 2023

Lily Allen | The Fear (Official Video - Explicit Version) - acho que continua a ser terrivelmente actual

domingo, 29 de janeiro de 2023

Encruzilhadas

Encontro-me numa encruzilhada em que sinto que devia abrandar mas que o vencimento dificilmente mo permite.
Fico aqui a fazer contas de sumir sem saber muito bem se deveria cerrar os dentes e continuar ou se sequer compensa o que ganho pela perda de saúde e condições físicas e mentais.
São aquele tipo de questões que nem deveríamos ter que nos colocar. Mas que se colocam, hoje mais do que nunca.

E eu sem respostas porque nenhum dos cenários é ideal, longe disso.

terça-feira, 24 de janeiro de 2023

Reflexões Laborais

Nem sei  como começar estou louca... levam-me à loucura qualquer frase deste género descreve o meu dia. Estava eu no fim do dia a fazer uma reflexão em que cheguei à conclusão que o problema não são eles claramente sou eu que os aturo e por isso surge novas modas associadas  a este sentimento maravilhoso:

Quiet quiting

Quiet firing

 Quiet hiring

Então tive de por musica para não mandar a malta para algum sitio feio mas a longo prazo dão-me cabo da audição perco sempre sanidade /audição.

No fim pensei tenho duas hipotese ou vou dar uma de tradutora de ingles de filmes numa plataforma brasileira ( Tudo para correr bem estou muito tentada ) Ou posso dedicar-me à pesca. Aceito sugestões....



segunda-feira, 23 de janeiro de 2023

Gatage - Os cinzas

Últimos a chegar, mas tão fofos como os laranjinhas.
Quisémos adoptar outro macho para fazer companhia ao Biggs que deixa as fêmeas loucas porque quer brincar e torna-se chatinho.
São manos e só íamos ficar com o Moogy (narizinho preto), mas ninguém quis o Levi (narizinho rosa) e a gerência agradece porque são muito chegados e eu gosto muito dos 2.

sábado, 21 de janeiro de 2023

Gatage - os laranjinhas

Manos, acolhidos juntamente com o resto da ninhada, alguns meses depois de ficarmos com a Freya.
Biggs e Rinoa, a Rinoa é tricolor, mas a ninhada era toda de laranjinhas portanto é uma laranjinha honorária e é também a gata que consegue abrir as portas, que escala até ao mais alto que houver e são ambos super, super meigos.





sexta-feira, 20 de janeiro de 2023

The Wheel of Time

 

"The Wheel of Time turns, and Ages come and pass, leaving memories that become legend. Legend fades to myth, and even myth is long forgotten when the Age that gave it birth comes again. In one Age, called the Third Age by some, an Age yet to come, an Age long past, a wind rose in the Mountains of Mist. The wind was not the beginning. There are neither beginnings nor endings to the turning of the Wheel of Time. But it was a beginning.

Born below the ever cloud-capped peaks that gave the mountains their name, the wind blew east, out across the Sand Hills, once the shore of a great ocean, before the Breaking of the World. Down it flailed into the Two Rivers, into the tangled forest called the Westwood, and beat at two men walking with a cart and horse down the rock-strewn track called the Quarry Road. For all that spring should have come a good month since, the wind carried an icy chill as if it would rather bear snow."
 
Ontem terminei os 14 livros desta saga. Comecei a lê-los na faculdade, mas com a notícia da morte do autor fiquei chocada e interrompi a leitura, porque pensei que nunca seriam acabados.

Felizmente, Brandon Sanderson dedicou-se a esta causa e terminou a saga com a ajuda e aprovação da mulher e do Estate de Robert Jordan.

É estranho terminar algo que nos acompanhou por tanto tempo, mas estes livros têm um incrível significado na minha vida.

There are neither begginings nor endings... the Wheel keeps turning.

terça-feira, 17 de janeiro de 2023

Gatage - a primogénita

Freya. Foi adoptada já adulta e têm uma ansiedade geral considerável mas é meiga... Quando quer 🙄




segunda-feira, 16 de janeiro de 2023

Animais em Casa - Take I



 Meet Jack & Rose 😊

domingo, 15 de janeiro de 2023

Quatro e meia

Ainda não percebi como não ganharam o festival...

https://youtu.be/ouTMlIKZuyk

Casulo

 "Hoje tenho maturidade para perceber que, na grande maioria dos casos, as pessoas que nos aconselham estão em situações onde nunca seríamos capazes de estar."

Felizmente para mim, eu apercebi-me disto muito cedo. É fácil lançar umas platitudes quando não estamos na situação e a generalidade das pessoas não entende bem a palavra "empatia".
As pessoas podem ter opiniões e dizer A ou B e que por ali seria um caminho muito mais fértil. Mas na verdade, não são eles que (con)vivem com as consequências, nem estão dentro da nossa matriz de pensamento para poderem realmente saber o que é melhor.

As decisões são sempre tomadas num vácuo, porque na realidade, nunca sabemos como vai correr até a termos tomado.

Muita gente criticou quando me casei aos 21. Eram críticas válidas, mas ninguém estava na minha posição. Sabendo o que sei hoje, possivelmente teria optado do mesmo modo. Porque não queria viver com a possibilidade a pesar na minha mente, com a ideia que poderia ter apostado e poderia ter ganho. O resultado final foi diferente do que eu gostaria, na altura. Mas se tivesse tudo corrido "bem", hoje seria apenas uma curiosidade que seria contada entre família.
Conheço uma rapariga que casou exatamente com a mesma idade. Hoje continua a viver com o marido e os 3 filhos. Garanto que ninguém se questiona o motivo dela ter casado quando casou. Porque correu tudo "bem".

As pessoas que me rodeiam têm vidas que eu não queria ter. Posso não ter "tudo", não tenho filhos. Mas não trocaria as minhas circunstâncias pelas de ninguém que conheço. E se isto não diz tudo, não sei o que diga.

A fs2 possivelmente encontrou o que queria cedo demais e como tal, não percebeu o verdadeiro valor do que tinha. Na altura optou, e a opção também só é sabida porque foi tomada. Não saberíamos o resultado doutro modo. Foi alvo de vários "conselhos" e a única coisa que lamento é saber que não foi inteiramente tomada apenas por ela, sem interferência do ruído dos outros. Os outros esperam de nós coisas que nem eles são capazes de alcançar.

Ter uma relação, se for uma relação saudável, é realmente construtivo em muitos aspectos. Mas não é a solução para todos os males e a única transmutação da nossa vida que faz sentido. Acredito que muitas pessoas vivam perfeitamente bem sem uma relação e se atendermos à média das relações que conheço, é um risco sequer entrar numa. Não estou a dizer que não se deva entrar, mas sim que deve ser algo ponderado que se faz porque se quer, sem a interferência do ruído dos outros.

Eu conheci o meu marido através duma aplicação, que não foi o Tinder,  graças à fs2. Mas mesmo essa aplicação é nos dias de hoje muito diferente do que era na altura e não foi assim há tanto tempo. Tal como fs2 conta, conheço relatos de quem usa aplicações e são mundos muito diferentes do que eram. Também conheci várias pessoas através do mIRC em míuda e falavam-se semanas, às vezes meses, até sequer se ver uma foto. O envio da foto era só por si, um sinal de confiança. Hoje fala-se 2 minutos e com sorte, recebe-se uma dick pic e um convite para jantar. Mesmo que se vá sair e corra mal ou que a conversa azede, há sempre outro dia e outro perfil para escrutinar.

Corri muito até encontrar o meu marido, até porque contrariamente à fs2 nunca fui independente financeiramente ao ponto de conseguir suportar sozinha uma renda e tudo o resto. Vivi condicionada e mesmo assim carreguei no botão de reset as vezes suficientes até sentir que tinha chegado a algum lado, com o consequente turbilhão. Não aconselho a ninguém, é debilitante do ponto de vista emocional. Houve alturas que cheguei a duvidar que alguma vez me fosse sentir verdadeiramente estável com alguém. Acho que só há um par de anos é que senti que realmente nenhum dos 2 vai a lado nenhum sem o outro, que não precisava ter mil e um planos que me garantissem uma saída válida em caso de SOS.

A fs2 não precisa carregar no botão de reset porque está bem assim. É discutível se estaria melhor se encontrasse uma relação saudável, mas não é motivo para planos de acção. Antes só que mal acompanhada, frase antiga que muito poucos parecem verdadeiramente perceber ou viver de acordo. Com a paz podre de muitos casais, preferia viver sozinha. Conheço vários. Preferia não conhecer. Chega a um ponto que me pergunto se as pessoas que existiam antes ainda vivem dentro do casulo que é a nova persona dentro das circunstâncias que vivem.

"Mas diria que isto é transversal na sociedade dos dias de hoje. Com as amizades, se virmos bem, funciona de modo muito similar". Por vezes penso que devia tentar fazer mais amigos, até que uma das pessoas com quem convivo direta ou indiretamente tem uma atitude que eu me pergunto que mundo é esse lá fora e me recolho, quieta, aqui num lugar seguro.

Há umas semanas, um amigo disse que deveríamos combinar um almoço de Natal para depois percebermos que tinha o mês de Dezembro todo tomado com outros almoços de Natal, embora tenha sido o próprio a falar sobre isto. Deverá acontecer, algures no tempo, com sorte antes do Natal de 2023. E este episódio é talvez o mais benigno de todos os que vão acontecendo por aqui.

As pessoas têm pouco tempo e como tal, têm outras prioridades. A maioria das pessoas está noutro estágio de vida porque têm filhos e a vida tomada pelos eventos normais das crianças e as que restam, funcionam um pouco como conhecer pessoas nas aplicações.

As pessoas movem-se aos seus ritmos e nós ou cedemos ou mantemos o nosso. É cada vez mais raro haver qualquer tipo de compromisso. Ou estás a 400% e capitulas quem és, ou não estás. É um jogo perverso. Não conseguimos ser sem os outros, pelo menos até um certo ponto. Somos animais sociais. Mas o preço a pagar pelo retorno do investimento, deixa-me com muitas reservas. Talvez eu esteja fechada dentro do meu casulo, mas o mundo lá fora está cada vez mais ruidoso e cada vez mais implacável.

Cuidadora

Uma parte importante da minha personalidade é ser cuidadora. É garantir que os outros estão bem, é esticar a mão quando muitos outros não o fariam, seja por falta de tempo ou por falta de empatia.
Por ser quem sou e como sou, vivo numa linha extremamente fina entre dar a mão e garantir que quem se afoga não me arrasta para dentro da água até eu não conseguir respirar.

Em várias encruzilhadas senti que é incrivelmente difícil saber quando o que dou é insuficiente ou é demasiado. O meu primeiro instinto é sempre estender a mão. Sempre. E por isso mesmo, por vezes o resultado é extremamente triste ou tóxico. Nem sempre é assim, mas quando é, sinto uma escuridão imensa.
Creio que as pessoas nem se apercebem das vezes que me cospem na cara quando tenho uma mão estendida e, por acréscimo, o peito descoberto às balas.
Tento ter o self awareness suficiente para não sofrer do síndrome da salvadora, porque não o sou e porque cada vez mais preciso de me resguardar.
Há quem me peça desculpa mas não compreenda que as desculpas não apagam a profunda desilusão e que eu guardo a tristeza até ela voltar a transbordar numa situação idêntica. Dói-me mais que as pessoas me peçam desculpa para pouco tempo depois terem uma atitude idêntica, porque prova que sabem o que está mal mas é só até se sentirem novamente a afogar para me lançarem as mãos ao pescoço.

É um facto que nem sempre estou presente do modo que as pessoas querem ou precisam. Eu aprendi a esconder o quão mal me sinto ou o preço que pago para poder comparecer a eventos sociais em que a generalidade das pessoas se diverte. De há uns anos para cá, por força da degradação física comecei a ser mais aberta a nível de redes sociais sobre o facto de ser doente crónica e ter dor crónica porque quero aumentar a visibilidade dos doentes crónicos mas também porque tive que pedir flexibilidade no trabalho e tornou-se impossível esconder. No entanto, há coisas que ninguém entende sem ver ou estar nos calcanhares de quem vivencia a dor.
É praticamente impossível explicar a alguém que a partir das 16h é-me incrivelmente caro sair de casa, porque a minha energia desapareceu e vou estar sempre descompensada. É praticamente impossível explicar a alguém que estar numa festa de aniversário de crianças me pode induzir um flare up que pode durar dias. As pessoas simplesmente não compreendem ou não aceitam. Eu estou em frente a elas, pareço estar bem, a dor é invisível.

Eu sei que por isso, é difícil aceitarem quando não estou presente em determinados eventos ou só estou um par de horas e preciso vir embora. Ou quando recuso convites para jantar ou peço para almoçar mais cedo porque acordo tarde e preciso medicar-me há hora de almoço.
É quase impossível explicar que eu não tenho dias bons há anos. Eu meço os meus dias por grau de funcionalidade, há muito tempo que deixei de esperar acordar sem dores. Há 2 anos tive um dia bom no Verão. Um dia que não tive dores praticamente nenhumas. Foi um dia. Em 7 ou 8 anos.

Mas eu tento. Dentro das minhas limitações, eu tento estar. Talvez não todo o evento, talvez não naquele dia, talvez não do modo que as pessoas queriam. Mas eu tento. E estou sempre aqui, num lugar imovível, num inconsciente colectivo, num espaço sem espaço.
No entanto, as mesmas pessoas que não compreendem que eu nem sempre posso estar, também nunca aqui estão. Recebo muito poucas visitas. Porque eu não tenho filhos, os meus compromissos não pesam tanto como os dos outros e portanto o expectável é que seja eu a deslocar-me.
E porque eu estou sempre aqui, o grau em que estou pode ser escrutinado. Quando outros não estão, porque têm as suas "vidas" e os seus compromissos e os seus tempos.
Há dias é que é muito difícil não me sentir profundamente desiludida. Tento não me focar nestes sentimentos, porque não me faz bem. Por isso ajuda escrevê-los.

Por vezes gostava de poder deixar de ser como sou. Mas para isso eu deixaria de ser eu.

Dido - Grafton Street (Audio) - Fs2 I think you'll understand

A descoberta do sucedâneo

Não podia concordar mais com o texto da fs1.
Talvez por força das circunstâncias, e por ser bem mais nova, deixei uma relação perfeitamente normal e saudável e nunca mais a consegui replicar. Como eu, conheço outros casos. O mundo cá fora não era mais do que um aglomerado de ilusões e realidades fraturadas. Hoje tenho maturidade para perceber que, na grande maioria dos casos, as pessoas que nos aconselham estão em situações onde nunca seríamos capazes de estar. Pior, muitas vezes nem têm o self awareness necessário para saber que efetivamente se encontram em relações tóxicas. 

Eu e as restantes solteiras somos avidamente escrutinadas nos gatherings pontuais que ocorrem com as casadas, juntas, com filhos e afins. No meio das perguntas e respostas, definem-se incessantes planos de acção. Conheço poucas excepções para vos dar, porque as relações em que elas se encontram são infernos que tenho a felicidade de não conhecer. Mas permanecem lá é lá irão permanecer. O dinheiro continuará sempre a unir as pessoas pelos motivos errados. 

Felizmente sou independente emocional e financeiramente. Tenho pena de não conseguir replicar o que já tive, mas não precipito as coisas por isso. O que for para mim há-de chegar. Aprendi que a vida não é a soma dos seus sucedâneos. As pessoas são mesmo insubstituíveis, são únicas. O vazio que deixam é impossível de preencher a não ser pelas memórias que deixam.
Com o tempo percebi que poucas pessoas pensam como eu. Como vos disse, sempre fui mal habituada. Sempre fui tratada como pessoa, por isso estranhei quando me equipararam a um penso rápido, ou rebound girl, e outros termos modernos que no fundo não são mais do que epítetos simpáticos para a forma vulgar e superficial como as pessoas se relacionam nos dias de hoje.

Ora, não querendo ser nada do que descrevi acima, faltam-me opções válidas. As aplicações, vejo experiências boas e más. Todas nós as usámos no passado, mas os tempos eram outros, e as pessoas também. 
Há dias vi o tinder nas mãos de um colega e parecia um autêntico freak show. Entre perfis falsos, estrangeiros, casados, trios e outras modalidades, pouco se aproveita. 
Mesmo nas aplicações, parece quase uma missão impossível. Lembro-me de que falávamos online por dias a fio até termos um encontro, ou dar o número de telefone. Hoje, ao fim de 30 palavras, já nos pedem todas as redes sociais, contatos e temos convites para cafés, quando não é pior.
Imediatismo, como diria fs1 e bem. Se dissermos que não, não faz mal. Passamos ao próximo sucedâneo da lista. Porque, no final do dia, o que realmente importa é que há mais marés do que marinheiros.
Tenho amigas que protegem a sua identidade, e em parte concordo com elas. No entanto, isso traz outras desvantagens. Quem não oculta a sua identidade não aceita que outrém tenha de o fazer, por exemplo, por motivos profissionais. Outros casos vejo que fazem das aplicações meras coleções de cromos. Como fs1 dizia e bem, o facilitismo traz consigo uma enorme falta de compromisso e investimento. Mas não posso negar-vos que a maioria das pessoas boas estão tomadas. Infelizmente, pela minha história que vocês bem conhecem, deixei passar alguns. Hoje, entre os poliamorosos, os obcecados, e aqueles que só querem dar umas voltas, sobra pouco por onde escolher. 

Mas diria que isto é transversal na sociedade dos dias de hoje. Com as amizades, se virmos bem, funciona de modo muito similar. 
Prefiro ficar sozinha a ser aquilo que nunca fui - vulgar. Ninguém que nos trate assim nos fará feliz. O meu conceito de felicidade continua a considerar que o amor próprio é um valor sem preço. 

sábado, 14 de janeiro de 2023

Aprender a estar sozinho

As pessoas parecem ter deixado de se saber definir sem ser através da lente duma relação.

Talvez fruto da forma cada vez mais desapegada com que as relações familiares ou de amizade se perdem ou e fracturam, as pessoas parecem ter pavor de se saberem sozinhas. 

Há alguns anos coleccionei algumas relações profundamente infelizes por motivos que se assemelham mais com sobrevivência do que um verdadeiro criar de ligação/emoção. Os baixos vencimentos e o mercado habitacional empurra as pessoas para tentarem sustentar relações condenadas para não terem que voltar à estaca zero e possivelmente ter de regressar a casa dos pais ou outros familiares. 

Com outro tipo de estrutura financeira, tenho noção que teria tido a hipótese de fazer outras escolhas. 

No entanto, há quem tenha essa hipótese e se coloque à mercê de situações pouco estruturadas ou que as suporte, seja porque tem filhos ou porque simplesmente preferem ter companhia a estarem sozinhos, mesmo que tivessem mais paz de espírito solteiros. O que é algo que não consigo entender. Talvez porque não tive esse privilégio (à falta de melhor palavra) quando tive que adiar decisões importantes por falta de meios. Conheço situações de perto de pessoas que poderiam perfeitamente estar sozinhas dum ponto de vista monetário e até emocional, mas preferem uma relação sem grande profundidade ou de amparo mútuo apenas para não se sentirem sós. 

Ironicamente, a maior solidão é estarmos com alguém e ainda assim, sentirmos no nosso âmago que estamos sós. Que num momento de vicissitude estamos por nossa conta. 

Uma pessoa respondeu há tempos ao reparo "não compreendo porque te sujeitas a isto" com a resposta "certamente também tens discussões e maus momentos". E sim, todos temos discussões e maus momentos, mas quando a generalidade das interações se pautam por atrito e cedências a um ponto que a pessoa deixa de se reconhecer a si própria temos que nos questionar "vale a pena?". 

Mas as pessoas preferem convencer-se que todas as relações são infelizes e condicionadas do que estarem sozinhas até encontrar uma pessoa realmente compatível ou mesmo ficarem sozinhas. Ponto. 

De certo modo, o imediatismo generalizado e o facilitismo das dating apps, não ajuda. É extremamente fácil quando back in the day, tinhas que encontrar alguém por outros meios que implicavam maior custo social e temporal. 

Não tenho nada contra dating apps, embora o Tinder em particular me pareça baseado num conceito bastante redutor. Mas merece-me alguma reserva que as pessoas não tirem tempo para perceber o que correu mal e respirarem fundo, especialmente se estão em posição de o fazer.

Estar sozinho não é o fim do mundo. Pode ser até bastante libertador e um período de reflexão importante e de maturação da própria pessoa. 

De preferência sem Tinder.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2023

Reflexão dos Reis

Esta semana soube que uma amiga minha próxima de vai separar. Parece-me ser uma constante do pós Covid. Surpreendeu-me no entanto a corrida para as aplicações online, com a situação ainda por resolver. Não sei se é só impressão minha ou as pessoas estão desesperadas? Parece que ninguém já sabe estar sozinho. Tudo tem de ser imediato, descartável e sucedâneo. Observo em silêncio estes novos comportamentos e tendências. Tempos houve em que aconselhei prudência. Mas penso que ninguém me queira ouvir a dar conselhos.

Alguém me explica o que aconteceu às pessoas de hoje? 

domingo, 8 de janeiro de 2023

Compromissos sociais

O Inferno são definitivamente os outros, o facto de não nos verem como somos e sim como precisam/exigem que sejamos.

A sociedade atualmente corre a dois tempos, o online e o "presencial". Com as redes sociais, é-nos vendida a ilusão que todos nós estamos online e que lá "fora" o que é tema nas redes é também visto do mesmo modo ou discutido com o mesmo grau de importância. Garantidamente, tal não é verdade. Eventualmente, os temas que hoje são mais "progressistas" ou transgressores vão chegar ao offline, embora já esbatidos e até certo ponto distorcidos pelos debates e filtros da primeira fileira.

Desde que tenho uma ligação de internet estável, há 20 anos, que estar online e ter a informação potencialmente perto é algo que me define. É o meu único "vício". Isso não implica que a minha seja especialmente instagramável, porque não é. Mas ter a perceção do mundo e discussões online e offline, dá-nos bastante perspectiva.

A vida online está a progredir a um ritmo frenético e nesse mundo, ser-se childfree ou não seguir uma linha recta, é perfeitamente aceitável e, até certo ponto, normal. Mas para o offline, está longe de ser assim. A sociedade ainda pensa e faz-nos sentir que uma relação a dois não é uma "família". Se não há crianças, falta sempre algo, uma continuidade, és apenas uma "meia" família.

Essa imagem da família nuclear foi-se tornando menos idílica quanto mais lido com quem tem a família nuclear criada e põe uma máscara social de felicidade, quando é everything but. Não digo isto porque não tenho filhos. Digo porque, lamentavelmente, é o que vejo. E preferia não ver.

Portanto, não acho que a fs2 tenha falhado porque não cumpriu ou não pensa cumprir uma maternidade. Até porque do mesmo modo que eu sinto que a adopção seria um projecto demasiado arriscado emocionalmente e com um elevado custo emocional, físico e temporal e portanto não coincidente com o projeto que sonhei, acredito que para a fs2 a maternidade vivenciada em determinadas circunstâncias seja também ela arriscada e com um elevado custo e portanto também não coincidente com algo que possa ter imaginado enquanto jovem adulta.

O que era ontem, não é hoje.

A crise de valores e princípios é algo que sinto desde há muito. Os nossos pontos de partida foram radicalmente diferentes, pelo que nesse aspecto, só perdi o que sonhei que encontraria, não perdi algo que já tive e deixou de ser meu.
Criei várias ligações, é para mim relativamente fácil criar um laço com as pessoas. Mas não é um laço verdadeiramente profundo e é muitas vezes pautado pela força das circunstâncias. Ou haver alguma situação comum fortuita, que origina que encontre alguns pontos de interesse comum com alguém.

Não acho que o covid tenha mudado nada, que nos tenha aproximado ou afastado mais. Acho, que no meu caso particular, possibilitou não ter compromissos sociais.
Sem covid, jamais estaria a trabalhar remotamente e esse foi um dos aspectos mais benéficos a todos os níveis.
Não ter que ir e vir, com o consequente custo monetário e físico da deslocação é incrivelmente positivo para mim a vários níveis.

Sem covid, a realidade do teletrabalho não seria possível para a generalidade da população. Ainda não chegou a todos, mas chegou a alguns e antes só chegava mesmo às equipas de IT.
A pandemia democratizou o teletrabalho.

Por outro lado, visto que estou a trabalhar remotamente, as minhas interações sociais diminuíram drasticamente. Mas não vejo isso como algo negativo. Eu sou uma pessoa introvertida, o que não significa que não goste de interagir com pessoas. Mas significa que agora posso interagir com as pessoas porque quero e não porque sou "obrigada" por força das circunstâncias e isso permite-me guardar energia para aplicar noutras coisas.

Mentiria se dissesse que não existem momentos em que sinto falta de uma ou outra pessoa do contexto laboral. No entanto, o meu trabalho sempre teve uma rotação elevada e ver partir pessoas com quem falava diariamente era habitual. Mantenho algum contacto esporádico com pessoas que me foram mais próximas. É, porém, inegável que nunca tive muito em comum com a generalidade dessas pessoas. Ou por diferenças de idade, ou de percurso ou simplesmente por diferentes formas de estar. Não significa que não gostasse delas. Significa apenas, que quando a circunstância comum é removida, torna-se mais difícil manter esses contactos no mesmo registo.

"Noto uma grande falta de profundidade nos temas e na abordagem, egocentrismo, pouca disponibilidade e compromisso." Não poderia concordar mais. No entanto, não sei se alguma vez foi assim tão diferente. Basta olharmos à volta e algumas pessoas mantém-se próximas porque têm filhos e as crianças têm eventos comuns ou simplesmente é benéfico que brinquem entre si, servindo de cimento para os respetivos pais. Noutras, é porque frequentam os mesmos espaços ou têm hobbies em comum e portanto, isso mantém-nas próximas. E, quando tudo isso falha, é porque há interesses românticos/sexuais envolvidos.

É incrivelmente díficil organizar um evento social simples como ir jantar com alguém, se não houver à partida um interesse envolvido ou uma circunstância comum. O tempo é pouco, a vida adulta deixa-nos com recursos relativamente escassos e existem dinâmicas familiares e sociais que não podem ser adiadas, porque é assim que a sociedade funciona.

Também nesse aspecto, o covid servia como uma desculpa perfeita para aliviar algumas das "obrigações" sociais a que nos vemos presos.

Talvez o meu discurso pareça de alguém que considera que estar desconectado é a melhor solução, mas na verdade, não é essa a razão que me leva a escrever o que escrevo, e sim a frustração de sentir que as pessoas se movem socialmente por motivos que não são coincidentes com os meus. Que se não tivermos um interesse romântico ou sexual associado ou não existir uma circunstância completamente aleatória, é estupidamente complicado manter as pessoas.

E que quando tudo o resto falha, os outliers navegam relativamente isolados e é por isso esperado que estejam sempre disponíveis para/quando são necessários.

sábado, 7 de janeiro de 2023

O Inferno são os outros?

Sartre disse-o em tempos - o inferno são os outros. Cada vez mais concordo com esta afirmação.

Como bem descreveu fs1, é cada vez mais difícil que a sociedade aceite as nossas escolhas "outliers", embora digam que não.
Percebi com o tempo que o que nos aconselham não é mais do que o socialmente expectável, dum curso de vida tradicional, que a maioria segue de forma mais ou menos cega e, curiosamente, eu diria que na generalidade, alheios à sua própria vontade.

Os filhos entram aí também. Parece que uma relação a dois não fica completa se não existir uma criança. Em parte, tenderia a concordar. Mais tarde, dediquei-me a observar as rotinas desses casais. Em boa parte deles, as crianças são focos de conflito. Vejo as mães mais sobrecarregadas, os pais na eterna dualidade de solteiro/casado, e os filhos a demandarem dos pais a atenção e disponibilidade que eles não dispõem para lhes dar. Evidentemente, não será sempre assim. Mas no meu caso, conheço poucas excepções. Na verdade, com ou sem filhos, conheço poucas relações que eu considere genuinamente saudáveis. Talvez por isso não considere que falhei a vida apenas porque neguei uma maternidade que iria ser praticamente impossível para mim, sem suporte familiar.

Mas esta será talvez uma das faces mais visíveis deste problema dos dias de hoje, que não é mais do que uma enorme crise de valores e princípios. De há uns anos para cá que notei grandes diferenças na interação com os outros, ao ponto de questionar se o erro não estaria em mim. Hoje sei que estava mal habituada. As relações que estabeleci, e que nos trouxeram até aqui, pouco têm em comum com a maioria das que estabeleci posteriormente. São raras as excepções que assinalo. Na sua maioria, as minhas amizades mais recentes são frívolas e circunstâncias, movidas por interesses comuns. Noto uma grande falta de profundidade nos temas e na abordagem, egocentrismo, pouca disponibilidade e compromisso. Efeitos do Covid, dizem. A sociedade fechou-se sobre si própria. As pessoas isoladas tornaram-se egoístas e narcisistas. Será? Não terá sido apenas um trigger para que as pessoas realmente se revelassem? Que sociedade é esta em que vivemos hoje?
É um desafio diário que enfrento ver de tão perto criaturas que gostaria de ter tão mais longe. O meu maior desafio é não me deixar conspurcar nestas vivências. Felizmente ainda existimos aqui. Serei só eu a sentir isto? A desindividuação? Fs3 dizia que não pertencemos a esta nova realidade e cada vez mais acho que ela tem razão. 

Quando vos digo que dou valor ao que tenho e ao que criámos, é mesmo por isto. O mundo virou um inferno lá fora. 

sexta-feira, 6 de janeiro de 2023

Caminhos vedados

 
Eu gosto de crianças mas não gosto assim tanto de crianças. Gosto muito das minhas crianças.
Sim, gosto de crianças no geral, mas não a um ponto que me fizesse querer trabalhar como professora ou educadora, por exemplo.

Mesmo ter as crianças a dormir cá em casa é coisa que evito, porque há um peso de responsabilidade que prefiro não assumir, quando são um pedaço minhas mas não totalmente.
Ter um envolvimento (ainda) mais a fundo na vida das crianças implicaria assumir, até certo ponto, uma figura de autoridade e educação que eu não quero ter. Já tive essa experiência quando me vi a assumir parcialmente um papel parental e não é coisa que queira repetir. Quando a criança não é verdadeiramente nossa, há uma linha muito ténue entre o que podemos e o que devemos fazer/dizer.

Contrariamente à fs2, a minha infância e sobretudo a minha adolescência foram longe de idílicas e eu sei que uma parte da raíz do desejo da maternidade era ser verdadeiramente uma boa mãe, era quase ser mãe de mim mesma, ter o que não tive.

Ironicamente, esse caminho ficou-me vedado.

"Será suficiente? Será de menos? Seremos completas sem eles? Seremos mais felizes sem carregar o peso de outras vidas nos ombros?" - foram questões que me coloquei muitas vezes. Dizer que este longing desapareceu completamente seria mentir. É uma ferida que aceitei que a espaços vai sangrar, mas eu prometi a mim mesma que ia viver a minha vida, para além desse processo de luto do que não pude ter.
No entanto, regularmente as pessoas ficam ofendidas porque eu não quero nem nunca quis adoptar. Parecem achar que seria uma obrigação para mim e outr@s na minha condição ter que automaticamente adoptar. As questões são geralmente as mesmas. Não sou capaz de amar uma criança que não é minha biologicamente? Sim, sou. Mas o que as pessoas não sabem e algumas esquecem é que a minha vida emocional foi sempre bastante complexa e eu sei que um processo de adopção é tudo menos simples. Tanto de um ponto de vista legal como tudo o que implica. E eu não quero viver uma situação que tem todos os componentes para ser trágica. Acredito que muitos processos de adopção decorram maravilhosamente, mas eu já tive a minha dose de drama.

Não quero viver esse processo. Não acho que seja egoísta da minha parte, como algumas pessoas parecem pensar. Não devo nada à sociedade. A sociedade deu-nos o quê? Um mercado de trabalho saturado e precário, um sistema que penaliza fortemente quem não tem uma estrutura de apoio (como avós) que possam ficar com as crianças fora da hora 09h/18h ou quando estão doentes ou no Verão quando os colégios fecham.

Tal como a fs2, as pessoas que me são próximas e tiveram filhos não têm vidas que eu trocasse pela minha. As pessoas estão hoje em situações tão ou mais dependentes do que nos anos 90. A época da abundância acabou há pelo menos 2 décadas. Por muito triste que seja dizer isto, há casais juntos sobretudo pelas crianças, porque sozinhos não suportam as despesas. Há pessoas a lidar com problemas que têm a raíz na escassez de recursos e afins. Muitos casais ainda estão longe de dividir tarefas equalitariamente, muitos trabalhos exigem um nível de entrega que retira a energia de qualquer um, deixando muito pouco ou nada para a família. Certamente que existirão casais muito felizes com filhos, eu simplesmente não conheço nenhum.

Com o tempo aprendi a canalizar as facetas da minha personalidade que ficaram arrumadas para outro tipo de ligações. Há uns meses, alguém me disse "mas não são filhos". Claro que não são, nem eu disse que são. Disse simplesmente que foram formas que encontrei de coping com uma situação que não foi criada por mim, nem posso solucionar.

Não creio que seja de menos, fazemos o que podemos com a mão que a vida nos serviu. Mas acredito que alguns nem concebam uma vida que não segue o expectável ou que se desvia do curso que parecia seguir.

Existem dias em que eu própria assumo que, nesta fase, há desafios que eu prefiro não ter que lidar com. Ou que dificilmente teria energia ou disponibilidade mental. Talvez há 15 anos atrás. Mas não agora.

"A minha maior bênção foi ter aceite aquilo que tenho, aprender a valoriza-lo, e não viver sempre na angústia de ter aquilo que nunca poderei ter." Por caminhos diferentes e pontos de partida distintos, julgo que chegámos ambas à mesma resolução.

Não teria sido a minha escolha, mas existem vantagens e desvantagens como em tudo na vida. Focarmo-nos apenas no que não temos, não nos adiantaria de nada e só nos tornaria miseráveis.

O ano começou agora, eu diria que de forma diferente do que os anteriores.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2023

Carta ao Futuro

Agora que um novo ano se inicia, traçamos objetivos do que pretendemos para os 365 dias (already counting) que temos pela frente. Novas oportunidades, ou apenas a mesma sucessão de eventos, em cadências similares?

Fs1 falou de crianças. Na nossa carta ao futuro, das três que aqui escrevemos, creio que elas não terão lugar. Talvez a xpto ainda possa reconsiderar. 

Se me perguntassem há 10 anos atrás, talvez nessa carta ainda existisse essa ideia, bem como um ideal de família que há muito já se perdeu. Essa carta ao futuro tornou se presente e hoje passado. Escrevi novas cartas, pedi outras coisas, e nelas não habitam crianças. 

A minha infância foi extremamente abençoada. Os meus pais não me falharam em nada, na verdade. A nós, só o destino falhou. E na minha dinâmica atual uma criança seria um desafio demasiado grande. Não conseguiria ser a mãe que a minha mãe foi para mim. Outros tempos, dizem.

No entanto, a ideia idílica que trazia da maternidade há muito que se perdeu. Vejo amigas com noites mal dormidas, as crianças sempre doentes, os casais que pouco se apoiam, as escolas que estão abertas menos horas do aquelas que os pais necessitam para conseguirem assegurar as suas vidas profissionais... Vejo crianças, mas não vejo tanta felicidade como julguei ver com a sua aparição. 

Mas a par com fs1, sinto a desindividuação dos pais em prol dos seus filhos. A maioria estão alienados e há muito que se esqueceram de si próprios. Das suas vontades, dos seus desejos, das suas realizações. O seu dia a dia é um casa-trabalho repleto de responsabilidades e obrigações. Não os invejo. Observo-os e penso que, apesar de tudo, o meu caminho não será por ali.

Concordo com fs1. Viver junto dos filhos dos outros, foi o que passei a fazer também. Não será o melhor dos dois mundos? Ter as crianças por perto, quando queremos, sem ter o peso enorme da responsabilidade de tomar conta doutro ser humano. Será suficiente? Será de menos? Seremos completas sem eles? Seremos mais felizes sem carregar o peso de outras vidas nos ombros?

Continuo a escrever cartas ao futuro. Mas por agora apenas eu continuo como personagem da minha história. A minha maior bênção foi ter aceite aquilo que tenho, aprender a valoriza-lo, e não viver sempre na angústia de ter aquilo que nunca poderei ter. 


terça-feira, 3 de janeiro de 2023

Childfree

 Quis a Providência (e a minha promessa a mim mesma num Passado que parece ter acontecido noutra vida), que na minha vida repleta de crianças, nenhuma seja minha.
Hoje não vou falar no percurso e sim nas peculiares circunstâncias de ser childfree.
A sociedade condiciona-nos a pensarmo-nos numa determinada cadência de acontecimentos relativamente pré-determinados. Quando a nossa vida se desvia, ainda que por poucos passos, dessa linha pré-definida, encontramo-nos meio perdidos, nós e os outros, numa condição atípica em que é difícil enquadrarmo-nos.
A primeira coisa que rapidamente percebi, é que até certo ponto, somos encarados como estando suspensos num tempo incerto. Quando me colocam a questão "então e o que contas de novo", na verdade não conto grande coisa. Não há crianças para assinalar as gracinhas que fazem ou a sua percepção por vezes acutilante, ou os seus objectivos cumpridos.
Portanto, muito pouco se passa de realmente "novo".
A juntar à cadência dos dias que podem parecer iguais ou muito pouco distintos para quem vê de fora, a pessoa que não tem as crianças é sempre encarada como muito mais disponível. Os teus horários passam a rodar em torno dos horários da pessoa (seja amigo ou familiar) que tem as crianças, e logo mais responsabilidades e dificuldades acrescidas. Pelo que a bola está sempre no teu campo para te adaptares, o teu tempo é, de certo modo, menos valioso.
O mesmo verifica-se nas empresas, onde os colaboradores com filhos têm geralmente mais algumas regalias na marcação de férias ou escolha de horários. Embora compreenda que é evidente que quem tem filhos tem sempre mais condicionantes (como seja ter onde deixar as crianças quando os colégios fecham), também não me parece inteiramente justo que seja expectável quem não tem filhos tenha eterna disponibilidade para assegurar horários noturnos ou fins de semana. Esta situação não me atinge particularmente porque eu prefiro fazer um horário mais noturno, mas foi e continua a ser fonte de bastantes conflitos na empresa onde trabalho.
Mais importante que os factores referidos é a dificuldade em encontrar pontos de interesse comuns com pessoas que têm filhos. Embora não seja a minha experiência com os meus irmãos (felizmente), com outras pessoas é sempre muito complicado manter algum tipo de conversa que não termine quase exclusivamente nas crianças. Embora eu goste de crianças, é maçador quando todas as conversas terminam nos episódios caricatos ou engraçados dos garotos, muito menos quando nem os conhecemos ou temos qualquer interacção com os mesmos.
Talvez seja injusto da minha parte, mas a sociedade parece esperar que os adultos abdiquem da sua personalidade e interesses para o superior interesse da criança, deixando de ser o A ou o B e passando a ser o pai de C ou D,num processo de obliteração do indivíduo em prol da criança.
Não é incomum ler críticas a propósito de qualquer mãe que poste uma fotografia num qualquer espaço social sem a criança, mesmo que seja uma saída esporádica e a criança esteja entregue a um familiar próximo ou no colégio/escola. Não me parece saudável esta desintegração do ser para se assumir apenas uma identidade, mesmo que essa identidade seja a mais importante numa determinada altura da vida.
Visto que muitos dos que me rodeiam estão atualmente neste ponto das suas vidas, é bastante incomum encontrar alguém interessante ou ajustável o suficiente. 

Lógico que isto não é uma regra sem excepção, mas é sem dúvida uma das situações que mais me tem merecido reflexão. 

A sociedade não tem estrutura para lidar com outliers.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2023

(re) começos

Que este novo ano seja de (re) começos.

E ao ano que agora inicia...

Uma das muitas ofertas que podemos guardar de fs1, Maria do Rosário Pedreira.
Postar estes miminhos que fui conhecendo e recuperando por aqui. 


Deixei de ouvir-te. E sei que sou 
mais triste com o teu silêncio.

Preferia pensar que só adormeceste; mas
se encostar ao teu pulso o meu ouvido
não escutarei senão a minha dor.

Deus precisou de ti, bem sei. E
não vejo como censurá-lo

ou perdoar-lhe.
 

a perca © 2008. Chaotic Soul :: Converted by Randomness