sábado, 7 de janeiro de 2023

O Inferno são os outros?

Sartre disse-o em tempos - o inferno são os outros. Cada vez mais concordo com esta afirmação.

Como bem descreveu fs1, é cada vez mais difícil que a sociedade aceite as nossas escolhas "outliers", embora digam que não.
Percebi com o tempo que o que nos aconselham não é mais do que o socialmente expectável, dum curso de vida tradicional, que a maioria segue de forma mais ou menos cega e, curiosamente, eu diria que na generalidade, alheios à sua própria vontade.

Os filhos entram aí também. Parece que uma relação a dois não fica completa se não existir uma criança. Em parte, tenderia a concordar. Mais tarde, dediquei-me a observar as rotinas desses casais. Em boa parte deles, as crianças são focos de conflito. Vejo as mães mais sobrecarregadas, os pais na eterna dualidade de solteiro/casado, e os filhos a demandarem dos pais a atenção e disponibilidade que eles não dispõem para lhes dar. Evidentemente, não será sempre assim. Mas no meu caso, conheço poucas excepções. Na verdade, com ou sem filhos, conheço poucas relações que eu considere genuinamente saudáveis. Talvez por isso não considere que falhei a vida apenas porque neguei uma maternidade que iria ser praticamente impossível para mim, sem suporte familiar.

Mas esta será talvez uma das faces mais visíveis deste problema dos dias de hoje, que não é mais do que uma enorme crise de valores e princípios. De há uns anos para cá que notei grandes diferenças na interação com os outros, ao ponto de questionar se o erro não estaria em mim. Hoje sei que estava mal habituada. As relações que estabeleci, e que nos trouxeram até aqui, pouco têm em comum com a maioria das que estabeleci posteriormente. São raras as excepções que assinalo. Na sua maioria, as minhas amizades mais recentes são frívolas e circunstâncias, movidas por interesses comuns. Noto uma grande falta de profundidade nos temas e na abordagem, egocentrismo, pouca disponibilidade e compromisso. Efeitos do Covid, dizem. A sociedade fechou-se sobre si própria. As pessoas isoladas tornaram-se egoístas e narcisistas. Será? Não terá sido apenas um trigger para que as pessoas realmente se revelassem? Que sociedade é esta em que vivemos hoje?
É um desafio diário que enfrento ver de tão perto criaturas que gostaria de ter tão mais longe. O meu maior desafio é não me deixar conspurcar nestas vivências. Felizmente ainda existimos aqui. Serei só eu a sentir isto? A desindividuação? Fs3 dizia que não pertencemos a esta nova realidade e cada vez mais acho que ela tem razão. 

Quando vos digo que dou valor ao que tenho e ao que criámos, é mesmo por isto. O mundo virou um inferno lá fora. 

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