quinta-feira, 5 de janeiro de 2023

Carta ao Futuro

Agora que um novo ano se inicia, traçamos objetivos do que pretendemos para os 365 dias (already counting) que temos pela frente. Novas oportunidades, ou apenas a mesma sucessão de eventos, em cadências similares?

Fs1 falou de crianças. Na nossa carta ao futuro, das três que aqui escrevemos, creio que elas não terão lugar. Talvez a xpto ainda possa reconsiderar. 

Se me perguntassem há 10 anos atrás, talvez nessa carta ainda existisse essa ideia, bem como um ideal de família que há muito já se perdeu. Essa carta ao futuro tornou se presente e hoje passado. Escrevi novas cartas, pedi outras coisas, e nelas não habitam crianças. 

A minha infância foi extremamente abençoada. Os meus pais não me falharam em nada, na verdade. A nós, só o destino falhou. E na minha dinâmica atual uma criança seria um desafio demasiado grande. Não conseguiria ser a mãe que a minha mãe foi para mim. Outros tempos, dizem.

No entanto, a ideia idílica que trazia da maternidade há muito que se perdeu. Vejo amigas com noites mal dormidas, as crianças sempre doentes, os casais que pouco se apoiam, as escolas que estão abertas menos horas do aquelas que os pais necessitam para conseguirem assegurar as suas vidas profissionais... Vejo crianças, mas não vejo tanta felicidade como julguei ver com a sua aparição. 

Mas a par com fs1, sinto a desindividuação dos pais em prol dos seus filhos. A maioria estão alienados e há muito que se esqueceram de si próprios. Das suas vontades, dos seus desejos, das suas realizações. O seu dia a dia é um casa-trabalho repleto de responsabilidades e obrigações. Não os invejo. Observo-os e penso que, apesar de tudo, o meu caminho não será por ali.

Concordo com fs1. Viver junto dos filhos dos outros, foi o que passei a fazer também. Não será o melhor dos dois mundos? Ter as crianças por perto, quando queremos, sem ter o peso enorme da responsabilidade de tomar conta doutro ser humano. Será suficiente? Será de menos? Seremos completas sem eles? Seremos mais felizes sem carregar o peso de outras vidas nos ombros?

Continuo a escrever cartas ao futuro. Mas por agora apenas eu continuo como personagem da minha história. A minha maior bênção foi ter aceite aquilo que tenho, aprender a valoriza-lo, e não viver sempre na angústia de ter aquilo que nunca poderei ter. 


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