domingo, 15 de janeiro de 2023

A descoberta do sucedâneo

Não podia concordar mais com o texto da fs1.
Talvez por força das circunstâncias, e por ser bem mais nova, deixei uma relação perfeitamente normal e saudável e nunca mais a consegui replicar. Como eu, conheço outros casos. O mundo cá fora não era mais do que um aglomerado de ilusões e realidades fraturadas. Hoje tenho maturidade para perceber que, na grande maioria dos casos, as pessoas que nos aconselham estão em situações onde nunca seríamos capazes de estar. Pior, muitas vezes nem têm o self awareness necessário para saber que efetivamente se encontram em relações tóxicas. 

Eu e as restantes solteiras somos avidamente escrutinadas nos gatherings pontuais que ocorrem com as casadas, juntas, com filhos e afins. No meio das perguntas e respostas, definem-se incessantes planos de acção. Conheço poucas excepções para vos dar, porque as relações em que elas se encontram são infernos que tenho a felicidade de não conhecer. Mas permanecem lá é lá irão permanecer. O dinheiro continuará sempre a unir as pessoas pelos motivos errados. 

Felizmente sou independente emocional e financeiramente. Tenho pena de não conseguir replicar o que já tive, mas não precipito as coisas por isso. O que for para mim há-de chegar. Aprendi que a vida não é a soma dos seus sucedâneos. As pessoas são mesmo insubstituíveis, são únicas. O vazio que deixam é impossível de preencher a não ser pelas memórias que deixam.
Com o tempo percebi que poucas pessoas pensam como eu. Como vos disse, sempre fui mal habituada. Sempre fui tratada como pessoa, por isso estranhei quando me equipararam a um penso rápido, ou rebound girl, e outros termos modernos que no fundo não são mais do que epítetos simpáticos para a forma vulgar e superficial como as pessoas se relacionam nos dias de hoje.

Ora, não querendo ser nada do que descrevi acima, faltam-me opções válidas. As aplicações, vejo experiências boas e más. Todas nós as usámos no passado, mas os tempos eram outros, e as pessoas também. 
Há dias vi o tinder nas mãos de um colega e parecia um autêntico freak show. Entre perfis falsos, estrangeiros, casados, trios e outras modalidades, pouco se aproveita. 
Mesmo nas aplicações, parece quase uma missão impossível. Lembro-me de que falávamos online por dias a fio até termos um encontro, ou dar o número de telefone. Hoje, ao fim de 30 palavras, já nos pedem todas as redes sociais, contatos e temos convites para cafés, quando não é pior.
Imediatismo, como diria fs1 e bem. Se dissermos que não, não faz mal. Passamos ao próximo sucedâneo da lista. Porque, no final do dia, o que realmente importa é que há mais marés do que marinheiros.
Tenho amigas que protegem a sua identidade, e em parte concordo com elas. No entanto, isso traz outras desvantagens. Quem não oculta a sua identidade não aceita que outrém tenha de o fazer, por exemplo, por motivos profissionais. Outros casos vejo que fazem das aplicações meras coleções de cromos. Como fs1 dizia e bem, o facilitismo traz consigo uma enorme falta de compromisso e investimento. Mas não posso negar-vos que a maioria das pessoas boas estão tomadas. Infelizmente, pela minha história que vocês bem conhecem, deixei passar alguns. Hoje, entre os poliamorosos, os obcecados, e aqueles que só querem dar umas voltas, sobra pouco por onde escolher. 

Mas diria que isto é transversal na sociedade dos dias de hoje. Com as amizades, se virmos bem, funciona de modo muito similar. 
Prefiro ficar sozinha a ser aquilo que nunca fui - vulgar. Ninguém que nos trate assim nos fará feliz. O meu conceito de felicidade continua a considerar que o amor próprio é um valor sem preço. 

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