quinta-feira, 14 de junho de 2012

O caminho

O caminho está, como sempre esteve, dentro de nós. O vórtice de loucura que nos inebria o pensamento, as preocupações que aumentam o ritmo cardíaco, que criam as doenças que nos consomem a alma, a única forma que existe de parar é voltando para dentro. Todas as respostas a todas as perguntas não estão fora do nosso alcance. Creio que não existe desafio que nos seja colocado que não consigamos ultrapassar. Mas não sozinhos. Com os que acolhemos dentro de nós e nos tornam unos. Sempre fui duas dentro de mim, está na altura de aceitar a dualidade do ser e avançar na única direção que conheço. Em frente. Rumo à incerteza, rumo ao amanhã. As preocupações desse momento devem viver dentro dele e não devem tomar-nos de assalto. O agora tem dentro de si mil e um desafios. Este é o momento em que tudo muda. Em que tudo é frágil e tudo é vento e silêncio. O caminho está, como sempre este, dentro de mim. Dentro de ti. Dentro da força que existe na união de pessoas que se compreendem e se aceitam. Inventa-te em poesia e som. Ainda existem mistérios que nos prendem neste mundo, longe do mundo dos sonhos. O caminho está, como sempre esteve, dentro do ser. Apenas precisamos da força que impele os passos a trilhá-lo.

sábado, 9 de junho de 2012

"When she was just a girl She expected the world But it flew away from her reach So she ran away in her sleep Dreamed of para- para- paradise Para- para- paradise Para- para- paradise Every time she closed her eyes" Coldplay - Paradise Quando era menina tinha sonhos e aspirações. Todos eles realizáveis. Não queria uma mansão nem um carro topo de gama, não me projetei casada com um milionário. E ainda assim tudo o que pedi para mim falhou redondamente. Ficou apenas um pouco aquém. Estudei o que queria quando quis. Esforcei-me. Caí e ergui-me muitas vezes. Mesmo nos dias em que tudo parecia vão e tudo era tão difícil. Fui eu mesma nos dias em todos os outros eram as expectativas dos que os que rodeavam. Fiz escolhas. Virei e revirei o mundo à minha imagem. Caí e ergui-me. Mais vezes ainda. E quando parecia que tudo era firme e tudo era terra, chovia e as águas levavam todos os alicerces. Toda a esperança. Cresci e estudei num país onde tudo o que nos resta é o nada. É o pouco que tornamos muito. Trago os meus no regaço, uma pequena relíquia de dias em que o Sol não me feria as pálpebras. Torno-me novamente noturna e o cérebro agradece. À noite os dias parecem mais fáceis. Como sonhos pardacentos que desaparecem por entre as nuvens escuras. Quando sinto o corpo parar, limpo a mente, arrumo as prioridades, choro lágrimas de papel. Ainda não é tempo de repousar. Apenas mais um passo, mais um dia, mais uma noite, mais um momento. Sobre os meus ombros descem as profecias que criaram para mim. Como se tudo o que sai das minhas mãos pequeninas seja o desespero com que grito as verdades que vergam os fracos. Existe uma sobriedade fanática na loucura. Parte da população esquece o que tornou a sua vida em álcool e drogas. Os restantes quebram, os músculos retesados, nem mais uma palavra. O medo que verga a espinha dorsal do nosso povo que aguarda a noite com a resignação da dignidade. E ainda assim, continuamos, fingindo-nos. Sorrindo onde não existem sorrisos. Inventando-nos em dinheiro que ninguém tem. Endividados das promessas tolas que a banca nos prometeu em tempos. Endividados, atrelados, cegos. Eu digo que vamos sobreviver a estes tempos. Mas as famílias estarão divididas, os amigos desaparecidos, os corpos lacerados, os corações rasgados, a mágoa. Iremos sobreviver mas o preço a pagar será imenso. Porque quem somos é uma imagem distorcida do que nos imaginámos em crianças. E alguém nos emprestou a máscara com que fingimos todo este tempo. E agora é altura de pagar. Com juros.
 

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