sábado, 9 de junho de 2012
"When she was just a girl
She expected the world
But it flew away from her reach
So she ran away in her sleep
Dreamed of para- para- paradise
Para- para- paradise
Para- para- paradise
Every time she closed her eyes"
Coldplay - Paradise
Quando era menina tinha sonhos e aspirações.
Todos eles realizáveis. Não queria uma mansão nem um carro topo de gama, não me projetei casada com um milionário.
E ainda assim tudo o que pedi para mim falhou redondamente. Ficou apenas um pouco aquém. Estudei o que queria quando quis. Esforcei-me. Caí e ergui-me muitas vezes.
Mesmo nos dias em que tudo parecia vão e tudo era tão difícil.
Fui eu mesma nos dias em todos os outros eram as expectativas dos que os que rodeavam.
Fiz escolhas. Virei e revirei o mundo à minha imagem. Caí e ergui-me. Mais vezes ainda.
E quando parecia que tudo era firme e tudo era terra, chovia e as águas levavam todos os alicerces. Toda a esperança.
Cresci e estudei num país onde tudo o que nos resta é o nada. É o pouco que tornamos muito.
Trago os meus no regaço, uma pequena relíquia de dias em que o Sol não me feria as pálpebras.
Torno-me novamente noturna e o cérebro agradece. À noite os dias parecem mais fáceis. Como sonhos pardacentos que desaparecem por entre as nuvens escuras.
Quando sinto o corpo parar, limpo a mente, arrumo as prioridades, choro lágrimas de papel.
Ainda não é tempo de repousar. Apenas mais um passo, mais um dia, mais uma noite, mais um momento.
Sobre os meus ombros descem as profecias que criaram para mim. Como se tudo o que sai das minhas mãos pequeninas seja o desespero com que grito as verdades que vergam os fracos.
Existe uma sobriedade fanática na loucura.
Parte da população esquece o que tornou a sua vida em álcool e drogas. Os restantes quebram, os músculos retesados, nem mais uma palavra.
O medo que verga a espinha dorsal do nosso povo que aguarda a noite com a resignação da dignidade.
E ainda assim, continuamos, fingindo-nos. Sorrindo onde não existem sorrisos. Inventando-nos em dinheiro que ninguém tem. Endividados das promessas tolas que a banca nos prometeu em tempos.
Endividados, atrelados, cegos.
Eu digo que vamos sobreviver a estes tempos. Mas as famílias estarão divididas, os amigos desaparecidos, os corpos lacerados, os corações rasgados, a mágoa.
Iremos sobreviver mas o preço a pagar será imenso. Porque quem somos é uma imagem distorcida do que nos imaginámos em crianças.
E alguém nos emprestou a máscara com que fingimos todo este tempo.
E agora é altura de pagar. Com juros.
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