segunda-feira, 25 de abril de 2011

A escravidão do amor

Desperto.
Os olhos queimados de lágrimas ásperas que beijaram o coração
antes de se perderem na linha do rosto.
Tenho os pulsos amarrados à cama onde repousas à noite.
Observo-te, louca. Louca de amor e de pertença,
nua, entregue, rendida. Não há mais espaço fora do teu corpo,
não há outra pele, outro começo. Nada mais existe
para além do teu sorriso. És o perigo, a aresta, a inexistência
de limites, és o silêncio em que grito, és tu, sempre foste tu,
sempre serás tu, em mim.
Vejo-te respirar, imagino os sonhos que te inquietam o sono.
Dói respirar. Dói-me o amor que me rasga a pele,
que transborda para os lençóis, que escorrega para o chão.
Que inunda o quarto.
Nada mais tenho para te oferecer do que a minh'alma,
o corpo, nada mais tenho que eu mesma.
Incompleta. Partirás um dia. Em busca do outro lado
de ti próprio. Partirás um dia e isso quebra-me.
Imagino que terei a dignidade de não perseguir os teus passos,
que não aguardarei com a garganta sufocada que coloques os pés
nas pegadas que te levaram para longe e regresses.
Imagino o silêncio, o grito, o abandono.
Recordo os momentos em que não estavas. E sei,
que sempre soube que irias voltar. Nunca estiveste ausente.
Mesmo quando jurei a mim mesma não te conhecer.
Mesmo quando quis odiar-te com a mesma intensidade
com que te amo. Mesmo quando proibi os meus lábios
de proferirem o teu nome.
A linha do meu coração levará sempre aos teus lábios,
ao azul dos teus olhos. E menti. Menti a mim e a outros,
menti que não te amo, que não te quero, que não te desejo
com a intensidade da loucura. E com a mentira hipotequei
a dignidade, perdi-me de mim, fui outra, fui menos do que sou.
Finji-me, violei-me, virei-me do avesso.
Vejo-te e adivinho-te as ânsias. As perfeições. As imperfeições.
Estou amarrada às tuas pálpebras.
E hoje assumo o que sinto, o amor que tolda a visão,
que me dobra, me verga a vontade, a incondicionalidade feroz
do desejo, das minhas mãos na tua pele.
Não quero mais negar-me a verdade, o néctar
proibido que me fere os lábios.
Preciso que o tempo não corra. Que se eternize o momento
em que posso fitar-te, o semblante adormecido
a imobilizar-me a ternura.
Tudo o que sou. Tudo, meu amor. Tudo o que sou,
é teu. Até quando partires. Será sempre teu.
Escrava, boneca, puta, imensa, pequena,
frágil, intensa, maremoto, brisa,
menina, mulher, nua, a alma, o corpo, o coração,
tudo.

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