terça-feira, 7 de julho de 2009

Redimensão

Nas notas do piano abandono cartas e serenidades.
No piano abandono-me, finalmente despida do mundano.
Dentro do coração existem ainda melodias
e palavras que foram tuas. No coração ainda coexistem
momentos em que sustenho a respiração
para ouvir a Lua murmurar.

Gosto de me imaginar estável e estagnada.
Superficialmente feliz com o passar lânguido dos dias,
das vozes que surgem do ruído da imensidão do tempo.
Gosto de me projectar no cansaço dos dias
e sorrir-me de longe, do findar de mais uma noite
em que tudo parece tão claro e tão digno.

(a verdade do piano descai-me dos ombros
para o colo onde morrem as cartas que não te escrevi,
os dias que não acordei nos teus braços,
os beijos que não depositei no teu rosto)

Gosto de me imaginar correcta num mundo
onde não conheço as linhas da tua mão.
Onde os caminhos do teu desespero não te
trazem até à minha pele.
Gosto de me imaginar franca e enraizada
no chão que não pisas.
Gosto de me imaginar num abismo
onde o teu amor não me consome o peito quebrado.

(escondo-te no piano, na mudez das teclas,
na placidez do esquecimento)

Gosto de me imaginar num quarto onde o teu corpo
não procure apagar-me noutros orgasmos.

1 comentários:

fs2 disse...

E quanto mais longe dele, mais perto de ti... :)

 

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