Voltas.
Como voltas sempre, amor. Fitas-me, cansado, os olhos obscurecidos e pouco crentes.
Abraças-me o corpo, absorves os espaços que são teus. Murmuras-me ao ouvido palavras sem sentido. Tens febre.
Pressinto a onda que mergulha a psique na dimensão que é nossa. Onde ninguém nos entenderia. Onde falaríamos um português que mais ninguém sabe falar.
Onde as palavras são apenas nossas e os sentidos foram atribuídos num passado distante.
Enraízas-te. Sei onde te nascem as feridas, sei que a febre não vai ceder hoje. Faço amor com o teu coração e com os dedos que se enterram na minha carne, deixo que me inundes de verde e de azul e de mar.
Purgo as feridas, suavizo a dor que é minha, que pulsa na minha essência e é tua. Nasce em ti e morre-me na língua. Que passo, áspera nos lábios.
Amanhã, sei que as abrirás e que as abrirás sempre e para sempre, enquanto todas as noites, toda a nossa vida, irei apagar as tuas cicatrizes. Por alguns momentos. Amanhecerás sempre igual, sempre meu. E de noite, voltas, amor. Voltas com o impacto de uma chuva de outono, violado de realidade e amargura.
Arrastarás o corpo, farás amor comigo, irás foder-me a alma, irás ver-me, tão claramente como se a carne não existisse na nossa dimensão. Terás dúvidas. Terás certezas. Terás orgasmos mentais e físicos.
E a febre, talvez nunca ceda completamente.
Não quero que me ames de qualquer outra forma que não esta.
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