quarta-feira, 28 de dezembro de 2022

Caminhos transmutáveis

Talvez um dia tenhamos sabido intuitivamente que há janelas para o passado, como cheiros que nos enviam numa viagem com bilhete de regresso e hora marcada e que nos permitem durante breves momentos reencontrar o que passou.
O som do comboio de madrugada traz-me sempre uma maré de imagens e recordações, eu e Eu de repente conectadas por um som distante e vago, um momento sem tempo e sem espaço.
Haveria uma magia? Ou seria meramente termos tempo e energia para nos dedicarmos? Não ter 40 horas de trabalho semanal permitia-nos investir nas pessoas e nas amizades, tempo e energia que descobri há muito que deixei de ter e dificilmente sei como recuperar.
As ausências pesam-me nos ombros. (Des)encontrámo-nos mas ainda consigo ouvir ecos das palavras que foram ditas e as que calámos.
Sempre tive uma relação difícil com o Natal. É uma época em que é impossível fingir que não vemos os lugares vagos à mesa, que ninguém substitui.
Talvez por isso, tenhamos intuitivamente sabido um dia, que há linhas que desenhámos no chão que nos trazem até aqui, onde o Passado convive com o Presente e onde (re)encontramos quem éramos e quem somos.
Por breves instantes sentimos a magia a traçar linhas convergentes e lembramos que existem caminhos velhos e poídos que são ainda assim mais transmutáveis do que os actuais.

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