Este ano constantei, passaram já 10 anos duma partida que chegou cedo demais. Com essa partida, sucederam-se outras. Entre partidas, fragmentei-me e deixei-me ficar entre momentos, como âncoras que me transportam para ir visitar quem fui, onde fiquei.
Fs1 queria a sua família no Natal. Infelizmente o destino pensou algo diferente. Eu queria a minha família no Natal, numa perenidade irrealista que só a mim faria sentido. O destino também teve outros planos para mim.
Não me posso queixar, quando perdi tudo, tive os melhores comigo. Felizmente guardo a maioria, uns mais perto, uns mais longe, sempre no pensamento e no coração.
Passei a ser uma ocupante das ausências das mesas. Em várias mesas onde não pertencia. Com o tempo percebi que nem sempre podemos estar onde pertencemos - os outros vivem os seus desafios, felizmente, num ritmo mais lento do que o meu.
Tentei estabelecer vínculos novos para desvanecer os antigos. Uns melhores, outros piores, mas todos diferentes, todos superficiais. O vazio que criam é preenchido pela presença de quem ainda está, e pelas saudades de quem se ausentou.
Criar laços é, afinal, um acto de amizade e amor. No seu âmago existem princípios e valores que a sociedade insiste em perder. Hoje, sobram alguns errantes com quem nos cruzamos. Gurus de coisas diversas, encontraram respostas para as inquietações do seu mundo e do nosso, que na realidade não tem profundidade para entender. Já não os ouço, nem às suas palavras vazias carregadas de sentidos onde não encontrei nenhum.
Mas tentei. Pode faltar tempo e vontade, é verdade. Mas falta muito mais. Conteúdo, compromisso, presença, sentimento, propósito, empatia, paciência. Poderei elencar tanta coisa, mas talvez e apenas a principal, falta ser humano, falta ser pessoa.
É por isso que voltamos a esta casa, ainda que isso hoje em dia represente apenas palavras de textos escritos num tempo já distante e disconexo. Mas são essas palavras que me lembram, afinal, que um dia eu soube criar algo indelével. Não perdi a capacidade de criar. O mundo tornou-se um lugar estranho. Cabe-nos apreciar o espetáculo que nos apresentam, aplaudir de forma desinteressada, e voltar para o lugar onde pertencemos. Aqui.
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