E aqui vos deixo algo que guardava há tanto tempo que me esqueci do tempo em que o guardei... junto a mim e ao meu peito, ansiando poder soltar-se como o grito mudo que invade a noite fria...
E agora permito-me dizê-lo ao mundo, comungar desta experiência avassaladora que me corroi e me amedronta tanto que as palavras saem sem contexto, sem nexo ou nem chegam a sair... porque suspender o peito por demasiado tempo leva-nos a comprimir os pulmões e o constrangimento do ar puro delonga-se a invadir o meu corpo...
Pelas palavras desta grande Senhora, vos deixo o que de mais profundo habita em mim....
Para atravessar contigo o deserto do mundo
Para atravessar contigo o deserto do mundo
Para enfrentarmos juntos o terror da morte
Para ver a verdade para perder o medo
Ao lado dos teus passos caminhei
Por ti deixei meu reino meu segredo
Minha rápida noite meu silêncio
Minha pérola redonda e seu oriente
Meu espelho minha vida minha imagem
E abandonei os jardins do paraíso
Cá fora à luz sem véu do dia duro
Sem os espelhos vi que estava nua
E ao descampado se chamava tempo
Por isso com teus gestos me vestiste
E aprendi a viver em pleno vento
Sophia de Mello Breyner Andresen
Livro Sexto (1962)
Livro Sexto (1962)
3 comentários:
"Era um amor que se esgotava no amar como se esgota em si a geometria da perfeição." - V.F. ;)
lindo/a passeio/viagem
a dois
fs2 - é inesgotável parece-me...
xk - obrigada, é de facto lindo...
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