FS1:
Aguardamos num desespero mudo que nos devolvam as palavras que um dia ousámos pronunciar. Recordamos o nosso discurso de outrora, cheio de sonhos e promessas por concretizar. Quem o guardou? Nada nos dizem. Refugiam-se no silêncio pungente que trespassa as horas dos nossos dias infindáveis. A cada dia que passa, a esperança que nos habita esmorece um pouco mais. As certezas dilaceram-se um pouco mais. A ansiedade e a angústia corrompem o optimismo que restou desde a última tentativa. Para quando a derradeira?
Hoje não te falo numa derrota, porque não o é. Em boa verdade, é uma vitória. Desistirmos da maquinação execrável que prepararam para nós. Diz o truísmo que não se perde aquilo que não nos pertence. E não será um pouco assim? Hoje falo-te da abdicação, no sentido grandioso e criador da palavra. Do abandono, voluntário e consciente. Não é uma desistência, é uma espera, ainda que imbuída de incerteza. Depois de tentar todos os caminhos, de oferecer todas as palavras, de traçar todos os destinos de vida possíveis e passíveis de almejar e cumprir. Depois de recolhermos os sonhos de vida dilacerados, de os remediarmos, de nos colocarmos neles como participantes incondicionais. Depois de todo o sacrifício resta, por fim, o abandono. Sabes porquê? Não podemos ser espectadoras da nossa própria vida eternamente. Mais, não podemos viver a vida daqueles que hesitam sobre qual o papel que nos pretendem atribuir. Ouvi em tempos que abandonar aquilo que mais se gosta era um acto grandioso. Não sei se concordo totalmente, mas também não consigo discordar. Mas depois de todas as tentativas infrutíferas de criar sentido, pouco nos resta senão aguardar.
Mas aqui, no local lúgubre de onde observamos a vida, há muito que o sol deixou de raiar. Há muito que nos votámos ao monocromático, ao tenebroso e pesaroso mundo dos cinzentos. Para quê? Para ajudar a criar significado a quem o deveria ter percebido no instante em que cruzou o nosso caminho? Porque há pormenores que definem as pessoas e esses não podem passar despercebidos. Porque não vais encontrar igual, por mais que procures. E terás de o saber no instante efémero em que surgem porque, ao hesitar, perdes a oportunidade. E a vida segue o seu curso inexorável, indiferente às tuas aparentes e ininteligíveis dúvidas existenciais.
O tempo é um bem precioso e nós desperdiçamo-lo demais. Com quem não o desperdiça connosco. Com quem falhou o mais básico e singelo exercício de observação. Com que insiste numa busca incessante, recusando aceitar que já encontrou o alvo da procura.
Comungo do teu abandono. Abdico de entender, de procurar, de me sacrificar. Regresso a mim com o ingente mar de dúvidas com que parti. Mas regresso da viagem que não iniciei, dos sonhos que não procurei, das palavras que preferia nunca ter ouvido. O que conspurca e fere não é tanto a ausência, mas a presença ausente, a impassibilidade, o estoicismo.
Hoje abandono aquilo que não consigo resolver em mim. Não se luta sozinho contra a imensidão da vida. Há um hiato que nos separa e que não nos ajudam a minimizar.
Sento-me, a teu lado, a observar o curso do rio, na certeza incerta que, um dia, o calor do sol voltará a acalentar o nosso coração, e que o arco-íris mais fulgente voltará a encher de cor a nossa alma.
quarta-feira, 14 de janeiro de 2009
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6 comentários:
Caras FS's
Noto que a minha ausência se prolongou por demasiado tempo, tanto que já não consigo acompanhar todos estes desenvolvimentos...
Shame on me
Claramente... Penso que a tua ausência nos anda a perturbar de tal forma que andamos em grandes reflexões... ;)
roubas-me as palavras fs, mesmo para te comentar.
penso que não é apenas o desenhador que tem talento desperdiçado por aqui ;)
atempadamente gerarei uma resposta digna a este texto.
Dizes portanto que sou uma usurpadora? As palavras estão no IC, poderás lá ir também, se precisares. Fico a aguardar pela resposta ;)
Epá medo.... isso pareçe a descrição do purgatório... jasus
Estar e não estar, doer e não doer... presente ou não presente mmmmmmeeeeddooooooo
Já tinha saudades do teu descrédito XP! Volta, estás perdoada! :)
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